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A reunião marcada para eleger o candidato a novo juiz do Tribunal Constitucional, António Almeida Costa, acabou sem eleição: Almeida Costa não conseguiu reunir dois terços dos votos dos juízes e o seu nome foi chumbado, apurou o Observador.

O candidato precisava de sete votos favoráveis de um total de dez juízes, mas ficou a um da eleição. O resultado final foi, assim, de seis votos a favor e quatro contra.

E foi confirmado, uma e outra vez: como mandam as regras das eleições do TC, após um primeiro resultado negativo, a votação foi repetida. E teve o mesmo resultado. O processo aconteceu, no total, cinco vezes e acabou sempre da mesma maneira: seis a favor, quatro contra, confirmaram os juízes através do voto secreto. Nada feito: o nome estava mesmo chumbado.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre a escolha dos juízes para o Tribunal Constitucional. 

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Que qualidades deve ter um juiz do Tribunal Constitucional?

As votações aconteceram depois de um debate que começou pelas 11h30, numa reunião que acabou por se prolongar até ao fim da tarde. O presidente do TC, João Pedro Caupers, chegou a estar presente por ser dia de plenário, mas saiu, uma vez que não pode assistir ao debate e votação para a eleição de juízes. Assim, foi José João Abrantes (juiz conotado com a ala esquerda) o responsável por presidir à longa discussão e às cinco votações.

O processo de cooptação que não foi, assim, dado por encerrado — uma vez que ainda não foi escolhido novo nome para o cargo de Pedro Machete, que está de saída — até vai ser alargado, apurou o Observador. É que daqui a vinte dias acaba o mandato de Lino Ferreira — um juiz com um perfil tido como politicamente equidistante — e precisará de ser substituído também por cooptação. Assim, os juízes deverão ter duas escolhas a fazer na próxima votação.

Sendo certo que Machete é conotado com a ala direita e, assim, seria substituído por Almeida Costa, da mesma área política, o Observador sabe que a ideia daquela ala será mesmo apresentar um novo nome que corresponda ao mesmo perfil – um juiz de direita, conservador. Assim, o braço de ferro — com contornos políticos — no TC poderá estar longe de acabar.

Depois do chumbo, fonte oficial do Tribunal Constitucional confirmou ao Observador que a reunião tinha acabado sem eleição: “Informo que o processo de cooptação relativo ao nome proposto foi concluído sem que se tenha procedido à cooptação”. No entanto, a mesma fonte adiantava que “a cooptação será retomada em breve”.

O processo tem sido marcado pela polémica à volta da opinião do professor de Direito sobre a interrupção voluntária da gravidez e a liberdade de imprensa. António Almeida Costa é candidato a ocupar o lugar de Pedro Machete como juiz conselheiro do Tribunal Constitucional e precisaria de sete dos dez votos dos juízes eleitos (além dos três cooptados) para ser escolhido.

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Não é, assim, ainda o ponto final num processo que marcou a história do Constitucional, após ter sido quebrado pela primeira vez a confidencialidade inerente ao processo de cooptação. Soube-se que três juízes conotados com a ala esquerda do TC (Mariana Canotilho, Assunção Raimundo e António Ascensão Ramos) manifestaram a sua oposição, quebrando uma prática seguida desde 1982 que confere o direito a cada ala político-ideológica a indicar um juiz sempre que um membro da sua ala se reforma.

Assumindo que os cinco juízes associados à ala direita votavam favoravelmente, Almeida Costa precisaria ainda dos dois outros votos da ala esquerda (José João Abrantes e Joana Fernandes Costa) para ser eleito — mas não terá conseguido convencer um deles.