O Museu de Lamas, em Santa Maria da Feira, inaugura sábado a mostra “Rota do Mediterrâneo”, em que instalações artísticas sobre a travessia marítima de refugiados acompanham fotografias sobre esse tema assinadas por repórteres da agência noticiosa France Presse.

Até 4 de setembro, várias salas desse equipamento cultural do distrito de Aveiro vão ser transformadas com composições artísticas destinadas a preparar o visitante para o que encontrará no final do percurso, quando o salão habitualmente reservado para esculturas em cortiça se apresentará com um fundo de areia, redes de pesca dispostas pelo ar, rochas e corais de papel e um barco insuflável lotado por maquetas humanas de adultos e crianças.

A diretora do Museu de Lamas, Susana Gomes Ferreira, disse à Lusa que esse cenário foi desenvolvido em parceria com a associação cultural Basqueiro e tem como objetivo chamar a atenção do público para a realidade refletida nas imagens dos fotojornalistas que vêm registando em alto-mar a travessia de refugiados como os provenientes da Líbia e da Síria.

Procuramos descrever, nas suas diferentes fases, o drama da crise dos refugiados na travessia do Mediterrâneo, que é uma das rotas de migração mais mortíferas da história da humanidade”, explicou Susana Gomes Ferreira. “Ano após ano, essa travessia continua a ser a última esperança para dezenas de milhares de pessoas que procuram fugir à guerra, à fome, à intolerância religiosa, às consequências das alterações climáticas e a um sem-fim de violações dos direitos humanos — e muitos acabam por não conseguir, perdendo a vida nesse esforço”, realçou.

Entre cenários plásticos e jornalismo fotográfico, o conjunto da intervenção constitui “uma estreia em Portugal” e adota uma estética “assumidamente perturbadora”, envolvendo “imagens cedidas na sua totalidade pela France Presse, que é a agência noticiosa mais antiga do mundo, emprega alguns dos melhores repórteres de imagem da atualidade e fez uma seleção criteriosa e exclusiva para esta exposição”.

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A mostra inclui assim registos captados por autores internacionalmente reconhecidos, “como o premiado fotojornalista grego Aris Messinis ou ainda o italiano Andreas Solaro”, cujos trabalhos de reportagem, ao serem replicados na imprensa mundial, vêm há muito alertando para os problemas que se abatem sobre os migrantes.

Na última parte do percurso, o visitante será obrigado “a caminhar sobre areia e sob a rede que representa a superfície do mar, navegada por um desses frágeis barcos apinhados de gente e de esperança”, com o que Susana Gomes Ferreira diz que museu e associação querem assegurar “uma experiência imersiva” e, dessa forma, reforçar “a consciencialização e o debate de ideias sobre esta questão incontornável da atualidade”.

Para essa responsável, trata-se também de afirmar “o poder transformador dos museus” na sociedade. “Recorremos às mais diversas manifestações artísticas para inquietar quem nos visita, de modo a abordar temas prementes e flagelos da sociedade que nos rodeia. Foi assim em 2021, com a exposição “Living Among What’s Left Behind”, do premiado fotojornalista Mário Cruz, e voltamos a fazê-lo agora com esta mostra, que quer estimular o desassossego e apela à transformação social”.

Embora obrigando habitualmente à aquisição de bilhete para acesso ao Museu de Lamas, a exposição “Rota do Mediterrâneo” tem entrada gratuita no domingo e também a 4 de setembro, último dia em que estará patente ao público.

Como a mostra integra o programa que o festival Basqueiral dedica em específico às artes plásticas, paralelamente à sua oferta musical, a aquisição de ingresso para esse evento também confere entrada livre na exposição nos dias 17 e 18 de junho.

Igualmente gratuitas serão as visitas noturnas ao Museu de Lamas nas seguintes datas: 8, 15, 22 e 29 de julho; 19 e 26 de agosto; e 2 de setembro.