Tinha eliminado Fernando González, vencera Tommy Haas, ganhara a Gael Monfils. Depois da estreia a cair na segunda ronda diante de Guillermo Coria, Novak Djokovic, então muito longe dos lugares de cabeça de série de Roland Garros, atingiu os quartos do torneio em 2006. Pela frente tinha Rafa Nadal, jogador com apenas mais um ano do que o sérvio mas que já estava a defender o triunfo na edição anterior. Perdeu, num encontro que nem chegou ao fim após sair derrotado nos dois sets iniciais por 6-4 e 6-4. O que poucos iriam imaginar é que esse seria o primeiro de 58 encontros realizados entre ambos ao longo de uma década e meia, naquela que é a maior rivalidade de sempre do ténis com novo capítulo esta terça-feira.

No saldo global, Djokovic, número 1 mundial, levava uma ligeira vantagem (30-28). Na terra batida, Nadal, número cinco da hierarquia, levava um largo avanço (19-8). Em Roland Garros, ainda mais: o sérvio ganhara o último jogo entre ambos, nas meias-finais do ano passado, mas antes o espanhol conseguira vencer sete em oito. Agora, o aliciante no embate dos quartos era outro, admitido pelo maiorquino antes do encontro que levantou alguma polémica por causa do horário noturno: poderia ser a última partida ali entre ambos. “Temos de estar preparados que esta seja a última vez em que estão a jogar um Grand Slam. Acredito que temos de aproveitar este momento e não pensarmos em mais nada”, dissera Mats Wilander.

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Djokovic fez de parede à fúria espanhola de Nadal e vai atrás do 19.º Grand Slam (podendo ficar a um do recorde)

O sueco, hoje comentador mas antigo vencedor do Major gaulês em 1982, 1985 e 1988, era uma das muitas vozes que faltavam deste encontro como se fosse uma final e não apenas um dos quatro jogos dos quartos, mesmo sabendo que o momento da Geração Z está a chegar agora com Carlos Alcaraz (que jogou esta tarde com Zverev, acabando por cair quando já era apontado como um possível finalista pelos parciais de 6-4, 6-4, 4-6 e 7-6 (7) que colocou o alemão nas meias). E essa questão do horário foi o assunto principal, com a imprensa espanhola a falar em desrespeito para com um jogador que ganhou por 13 vezes e que pediu para jogar à tarde. “Jogar em Paris sem sol é como ir a Paris e não ver a Torre Eiffel”, escreveu-se.

Existia a questão dos direitos televisivos e de uma “ditadura” consoante as suas vontades, havia também as diferenças mais técnicas sobre o que mudaria no jogo devido à humidade e ao frio que poderia na teoria ter um efeito mais penalizador para o espanhol por tornar a bola mais pesada. “Nunca gostei de jogar à noite em terra batida”, assumiu. “Não diria que é uma falta de respeito mas o Rafa tem crédito aqui e faz parte de Roland Garros, ganhou 13 vezes e se tem um pedido deviam ouvi-lo. Sabemos que ninguém está acima do torneio mas no final é tudo uma questão de negócios e entendemos isso”, acrescentou o seu treinador, Carlos Moya. “As televisões e plataformas queriam o jogo à noite, é o que há. Agora é ver se tem sorte. Quem paga manda e queriam à noite, é uma pena para o Rafa”, lamentou o tio, Toni Nadal.

Com mais ou menos razão, a ideia passava por “não pensar naquilo que não se pode controlar” e o Phillipe Chartier recebia um jogo entre o jogador com mais semanas no ranking mundial e aquele que tinha mais Grand Slams – e que considerava ser “o” rival. “Estivemos sempre a competir. [Roger] Federer e Nadal estiveram sempre lá mas para mim o Nadal é o maior adversário da minha carreira porque cresci como jogador porque ele me incentivou para isso”, assumira o sérvio depois do recente triunfo no Open de Roma, onde chegou também à marca das 1.000 vitórias em encontros a contar para o circuito ATP. E voltou a ser, neste caso um adversário intransponível que conseguiu evitar dois set points e fechou no tie break a 15.ª presença numa meia-final de Roland Garros num jogo que acabou à… 1h15 da manhã.

O primeiro jogo do duelo daria o mote para aquilo que seria o set inicial: muitos pontos de break, diferença no aproveitamento dos mesmos e apostas muito definidas dos dois jogadores. No entanto, e enquanto a esquerda paralela e o jogo consistente de fundo de court de Nadal tiveram efeitos práticos, as tentativas de variação de Djokovic raramente tiveram efeito. Com isso, o espanhol quebrou o serviço do adversário logo a abrir na terceira tentativa em mais de dez minutos, confirmou o break, segurou o serviço para o 3-1 após dois break points perdidos pelo sérvio, voltou a quebrar o serviço e fechou em 6-2 com 51 minutos.

Quando fazia esquerdas paralelas, ganhava o ponto. Quando arriscava as esquerdas cruzadas, ia à rede acabar o ponto. E a isso ainda se juntavam os erros não forçados de Djokovic e a percentagem abaixo de 50% nos primeiros pontos. Quase de forma natural, Nadal abriu o segundo set com um break num jogo com mais de 13 minutos em que só à sétima tentativa conseguiu fazer o 1-0, segurou o seu serviço no 2-0 e fez ainda novo break com quatro pontos seguidos até às vantagens para o 3-0. O sérvio era uma sombra do jogador que chegou aos quartos sem qualquer parcial perdido e com a melhor exibição nos oitavos com o argentino Diego Schwartzman mas ganhou uma nova vida a partir do inesperado break que fez o 3-1, chegando mesmo ao 3-3 no serviço de Nadal ao quinto ponto de contra e em 15 minutos. E a viragem não ficaria por aí, com Djokovic a ir fazer um terceiro break para fechar o set em 6-4 em 88 minutos…

Nadal estava muito mais forte, Djokovic conseguiu virar o encontro para o seu lado. Djokovic estava no comando da partida, Nadal mostrou que as mudanças podiam ser para os dois campos. E foi assim que, com um encontro em branco, o espanhol fez o break logo no primeiro jogo do terceiro set. O sérvio ainda teve uma oportunidade de ouro para voltar à discussão do parcial com um ponto de break no quarto jogo mas não só não aproveitou como de seguida perdeu o seu serviço mais uma vez, estendendo a passadeira para o espanhol dominar o terceiro set e fechar com um triunfo por 6-2 em “apenas” 41 minutos.

Já tínhamos passado da meia-noite em Paris (menos uma hora em Portugal) quando Rafa Nadal estava só a um set de voltar às meias-finais de Roland Garros pela 15.ª ocasião: as 13 que ganhou mais a da temporada transata em que perdeu frente ao número 1 do ranking ATP. No entanto, este jogo after hours estava longe ainda do seu desfecho pela boa entrada do sérvio no quarto parcial, a ganhar o seu encontro de serviço a abrir e a quebrar logo de seguida o serviço do espanhol logo no primeiro ponto de break que teve. A possibilidade de um quinto e decisivo set parecia inevitável até haver um novo “capítulo” no nono jogo: Djokovic teve dois set points, Nadal manteve o nível consistente das partidas anteriores de novo com as direitas a fazerem a diferença, conseguiu levar a decisão para as vantagens e fez mesmo o break para o 5-4. Tudo foi parar ao tie break, com o espanhol a ser mais forte nos pontos iniciais para fechar com 7-4.