Quase um mês depois do primeiro conselho de cidadãos a Assembleia Municipal de Lisboa voltou ao tema, na segunda parte de uma sessão de esclarecimentos realizada a pedido dos deputados independentes eleitos pelos Cidadãos por Lisboa. Na intervenção inicial, o deputado independente Miguel Graça apontou várias falhas ao processo (à semelhança do que já tinha feito na primeira parte da sessão de esclarecimentos) e comparou o processo a uma “caixa negra” sem qualquer “transparência”, ao contrário daquilo que se espera de um processo destes.

“A democracia é a expressão do que as pessoas querem, não do que o presidente quer que elas pensem. Muitas vezes acontece uma coisa que é o cherry picking, uma tentação que os políticos têm de só apanharem as ideias que lhes interessam”, apontou Miguel Graça.

“O cherry picking combate-se tornando-se o processo o mais transparente possível. Isso falhou aqui, tornarm o processo numa caixa negra onde não se conhece o que se conhece lá dentro. Isto não foi uma assembleia de cidadãos.”

Pelo PS, uma das deputadas comparou mesmo a postura de Carlos Moedas no conselho de cidadãos a um sketch dos Gato Fedorento: “Carlos Moedas diz que quer ouvir os cidadãos, ouve os cidadãos e depois diz que quer ouvir novamente os cidadãos. O famoso grupo humorístico Gato Fedorento não faria melhor”.

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As críticas centraram-se essencialmente na impossibilidade de assistir ao decorrer dos trabalhos, que se realizaram durante um fim de semana intenso, à falta de documentos oficiais ou relatórios do que foi discutido e, ainda, nas respostas que Carlos Moedas deu precisamente na sessão quando falou no encerramento dos trabalhos depois de ouvir as propostas dos cidadãos.

Perante a ambição de retirar 80% dos carros da Área Metropolitana de Lisboa, no longo prazo, ou de realizar superquarteirões pedonais, Carlos Moedas respondeu prontamente na sessão que “não se retiravam carros da rua de um dia para o outro” e que era preciso “ouvir as pessoas sobre a pedonalização de quarteirões”, algo que caiu mal na oposição.

“Tinha acabado de ouvir as pessoas, num conselho de cidadãos por ele pensado e a primeira resposta que dá é que é preciso ouvir as pessoas? Não faz sentido. Parece que só ouve quando respondem o que quer”, diz ao Observador o deputado municipal Miguel Graça.

Ao Observador, um dos participantes, Tiago Filipe Mota, diz que a medida “podia ter sido muito mais ambiciosa” apontando a falta de “sequer um debate coletivo nos dois dias de trabalho”.

“Era necessário um debate mais aberto. Esta espécie de democracia numa assembleia mais formal não podia ter sido conduzida assim. Fomos pressionados na metodologia, mas não nas temáticas”, diz um dos participantes que é dirigente em duas associações.

“Como nunca colaborámos os 50, nunca elegemos um representante dos 50 cidadãos. Se quiséssemos reunir amanhã novamente era impossível. Nunca elegemos, por exemplo, uma mesa. Estamos nas mãos da Câmara se quiséssemos voltar a reunir, houve falta de ambição para formalizar esse processo”, apontou o participante que frisou ainda que “não há nada escrito” sobre o desenvolvimento dos trabalhos.

Essa mesma falha voltou a ser apontada na sessão desta quinta-feira, com os deputados da oposição a pedirem mais informações sobre o que foi tratado pelos lisboetas selecionados para participar no processo. Na resposta, a vereadora Laurinda Alves recusou “alimentar qualquer polémica” e garantiu que a autarquia está apostada em “melhorar o projeto que é pioneiro e experimental”.

Não querendo comprometer a câmara municipal, deixou no ar que “pessoalmente” identifica como “questões sensíveis”, por exemplo “a afinação para um sorteio mais universal”. “Deu-se um passo, é importante. Agora só pode haver marcha à frente ou ao lado, não marcha à ré e muito menos ponto morto”, frisou a vereadora no final da sessão.

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