O cinema e os espetáculos de ilusionismo habituaram-nos a associar a palavra “abracadabra” a algo mágico ou inesperado. Um coelho retirado de uma cartola ou um desaparecimento misterioso diante do olhar da audiência são momentos propícios para o uso da expressão. Mas no século III, tinha outro papel: curar a malária.

Não se conhece a origem exata do conceito, no entanto o primeiro registo foi descoberto no Liber Medicinalis, no século III, um livro de medicina escrito em latim que enumerava curas para várias doenças comuns. Como conta o El Confidencial, o autor é Quintus Serenus Sammonicus, uma figura de grande prestígio na Roma Antiga e médico do imperador Caracalla.

Sammonicus prescrevia um método bastante simples que dizia poder curar a malária. Como? Num pergaminho ou papiro começava por se escrever a palavra abracadabra, recitando-a simultaneamente. De seguida, voltava a escrever-se, mas deixando cair a última letra e pronunciando-a como tal. Assim, “abracadabra” tornava-se “abracadabr” e depois “abracadab” até só sobrar uma letra. Por fim, o pergaminho era entregue ao doente, que o deveria usar como um amuleto durante onze dias. No último dia, a pessoa estaria curada, como explica a universidade norte-americana de Indiana.

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Segundo a instituição, este tipo de expressões eram utilizadas em muitas culturas pré-modernas como ferramentas poderosas de magia. Apesar do feitiço em si não curar as pessoas, o efeito placebo pode ter contribuído, em algumas circunstâncias para o sucesso do amuleto.

Durante muito tempo vigoraram crenças populares de que as enfermidades tinham causas sobrenaturais, de origem divina ou até demoníaca. Acreditava-se que podiam ser curadas com amuletos e orações, tradições que eram passadas de geração em geração. No século XVIII, o livro de “Journal of Plague Year”, de Daniel Defoe, ainda dava conta do uso de amuletos para corar doenças, como refere o El Confidencial.

Na Roma Antiga, as pessoas também recorriam a preces para pedir curas às divindades. Na mitologia romana há, inclusivamente, uma figura que se acreditava ter o poder de proteger as pessoas da febre e da malária: a deusa Febris.