Não tinha a mesma postura descontraída, não tinha aquela cara séria mas serena. Quem olhava para Rafa Nadal quando entrou no Philippe Chatrier para fazer o aquecimento antes do jogo de Alexander Zverev não via o mesmo Rafa Nadal do costume. Podia ser uma mera ilusão de ótica, podia ser o facto de jogar com a cobertura fechada devido à chuva, podia ser ainda o problema no pé esquerdo que numa imagem publicada pelo jornal Marca contava mais do que mil palavras. Não era o Nadal do costume e o arranque da partida iria mostrar isso mesmo (sem com isso tirar qualquer mérito ao alemão, que esteve quase perfeito). Assim,  a dúvida já não era em relação à superioridade do espanhol mas sim à sua capacidade de resistência.

Por alguma razão tem uma estátua à saída do court: Nadal vence Djokovic after hours e está pela 15.ª vez nas meias de Roland Garros

Nadal tinha uma vantagem até confortável no confronto direto com Zverev: 6-3 nos nove jogos anteriores entre ambos, 4-1 nos encontros realizados em terra batida, 1-0 em partidas do Grand Slam. E também tinha já apanhado o seu “susto” nesta edição de Roland Garros, batendo Félix Auger-Aliassime só em cinco sets antes de fazer o melhor encontro no torneio diante de Djokovic (o germânico enfrentou as suas dificuldades frente ao campeão do Estoril Open, Sebastián Báez, tendo a exibição mais consistente nos quartos diante de Carlitos Alcaraz). No entanto, Zverev estava apostado em conseguir chegar a uma nova final de Grand Slam, depois da derrota frente a Dominic Thiem no US Open de 2020, mesmo sendo contra Nadal.

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“Eu, o meu pai e o Sergi Bruguera vimos o Nadal a treinar e de repente a direita está 20 milhas por hora mais rápida. Mexe-se mais leve. Há algo neste court que o faz jogar 30% melhor, simplesmente estar neste court. O Novak também está a encontrar a boa forma, tem estado a jogar cada vez melhor e foi fantástico em Roma. Esses ainda são os favoritos número um e número dois para mim”, comentara antes do início do torneio. “Espero mesmo que recupere a 100% e possa estar em Roland Garros, ainda tem dez dias para tentar recuperar”, afirmara no final do Open de Roma, onde chegou às meias perdendo frente a Tsitsipas, sobre a lesão crónica do espanhol no pé esquerdo que o colocou em dúvida para o torneio.

O atual número 3 mundial podia chegar a número 2 passando Medvedev se ganhasse ao espanhol e tinha como grande objetivo alcançar pela primeira vez na carreira a liderança do ranking mundial caso vencesse pela primeira vez na carreira um Grand Slam. No entanto, acabou por cair da pior forma possível, com uma lesão que o fez desistir no segundo set (e quando já levavam três horas de jogo). E Nadal, que cumpria 35 anos esta sexta-feira, qualificou-se pela 14.ª vez para a final de Roland Garros, apesar de não ter sido o desfecho que queria e como ficou bem visível na expressão quando se apercebeu do problema. Se antes se falava do pé esquerdo de Nadal, ao fim de três horas as atenções estavam no pé direito de Zverev.

O jogo começou logo com o primeiro break de Zverev no serviço de Nadal, fazendo quatro pontos seguidos após o 30-0 inicial e confirmando no seu serviço o 2-0. O alemão parecia uma máquina, pela potência das suas pancadas, pela precisão com que colocava a bola nos ângulos e nas linhas, pelo serviço que fazia toda a diferença. O sexto e sétimos jogos foram mesmo fechados em branco por ambos mas a corrente começava a mudar, a resistência do espanhol colocou o germânico a falhar mais e ao segundo ponto de break Nadal fez o 4-4, voltando a colocar tudo na estaca zero para um final atípico no décimo jogo, quando o espanhol errou onde não costuma errar, desperdiçou três set points no serviço do adversário e teve de anular dois pontos de break no seu serviço. A decisão chegaria no tie break com 10-8 para Nadal, depois de ter visto Zverev colocar de novo a sua direita em ação mas com quatro set points anulados a partir do 2-6.

Uma hora e meia depois, o primeiro parcial ficava resolvido de uma forma que parecia catapultar Nadal para outro patamar, uma ideia confirmada com quatro pontos seguidos no serviço de Zverev que fez logo a abrir o 1-0. No entanto, isso seria apenas uma mera aparência: o alemão fez de novo o break, o espanhol conseguiu outro break, o alemão respondeu da mesma forma e só na mesmo na quinta partida alguém conseguiu segurar o seu serviço, seguindo-se mais três breaks que colocaram o número 3 do mundo a servir para poder fechar o set. O que aconteceu? Mais um break de Nadal. O espanhol iria ganhar pela primeira vez o seu serviço mas, com 6-5 para o alemão e 40-30 para o espanhol no seu serviço, Zverev sofreu uma lesão no pé direito que fez com que tivesse de sair de cadeira de rodas do court.