A taxa de inflação em Cabo Verde atingiu no primeiro trimestre deste ano o valor mais alto em praticamente 11 anos, devido ao impacto da escalada internacional de preços provocada pela guerra na Ucrânia, segundo o Ministério das Finanças.

De acordo com dados compilados esta sexta-feira pela Lusa a partir de um relatório sobre a execução orçamental de janeiro a março, a inflação em Cabo Verde “acelerou para o seu valor mais alto desde junho de 2011” no final do primeiro trimestre.

A inflação média anual foi então de 3,8%, face à taxa de 0% no mesmo período de 2021, “derivado fundamentalmente do comportamento dos preços internacionais dos bens energético e dos bens alimentares no mercado internacional”, acrescenta o relatório do Ministério das Finanças.

As classes de bens que mais contribuíram para a escalada de preços foram os produtos alimentares e bebidas não alcoólicas (1,9 pontos percentuais), transportes (0,9 pontos), vestuário e calçado (0,4 pontos), acessórios, equipamentos domésticos e manutenção de habitação (0,4 pontos), bens energéticos (0,4 pontos) e bebidas alcoólicas e tabaco (0,2 pontos).

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Cabo Verde já tinha fechado 2021 com uma inflação média anual de 1,9%, o valor mais alto desde 2013, então influenciado pelo aumento do preço dos combustíveis no mercado internacional, segundo o governo cabo-verdiano.

O arquipélago registou uma variação acumulada anual nos preços de 0,6% em 2020, sucedendo a uma taxa de 1,9% no conjunto do ano de 2019, segundo dados anteriores do INE.

Os preços em Cabo Verde aumentaram 0,1% no mês de abril e acumulam uma subida de 7,6% no espaço de um ano, indicam dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) de 16 de maio.

De acordo com o Índice de Preços no Consumidor (IPC), elaborado pelo INE, esta variação mensal fica 1,1 pontos percentuais abaixo da taxa registada em março.

“A taxa de variação homóloga do IPC total, no mês de abril de 2022, foi de 7,6%, valor idêntico ao registado mês anterior”, lê-se no relatório do INE.

No mesmo período, o IPC registou ainda uma variação média dos últimos 12 meses de 4,4%, valor superior em 0,6 pontos percentuais ao verificado em março.

O governo cabo-verdiano apelou a 5 de abril à mobilização de apoio orçamental internacional face ao “cenário desastroso” nas contas públicas provocado pela guerra na Ucrânia, estimando em 40 milhões de euros o impacto para conter a escalada de preços, mais tarde revisto para cerca de 50 milhões de euros.

“É um cenário desastroso. É um cenário diria mesmo dramático, mas todos em conjunto seremos capazes de o resolver”, afirmou o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, ao apresentar ao corpo diplomático acreditado no país a situação macroeconómica para 2022, após as consequências da guerra, nomeadamente a necessidade de intervenção do Estado para estabilizar os preços da energia e alimentos.

Cabo Verde não possui capacidade de refinação e importa todos os produtos petrolíferos de que necessita – cerca de 80% da produção de eletricidade é garantida por centrais gasóleo ou fuelóleo — bem como 80% dos alimentos, devido à seca que o arquipélago vive há mais de três anos.

O gasóleo e a gasolina em Cabo Verde aumentaram quase 9% no dia 1 de maio e mais 5% em 1 de junho, o limite definido pelo governo, que suspendeu no final de março o mecanismo de fixação de preços máximos ao consumidor devido à escalada de preços dos combustíveis no mercado internacional, decisão que implicou ainda o congelamento do preço do gás butano, tal como em abril e maio.

No espaço de um ano, até junho, o preço dos combustíveis aumentou quase 55% em Cabo Verde, segundo a agência reguladora do setor.

Já as tarifas da eletricidade, igualmente condicionadas pelos preços dos combustíveis, aumentaram em média 30% em outubro passado.