Filipe e Sérgio criaram uma marca de moda, a wetheknot, para remar contra a toda a corrente de estereótipos que esta indústria impõe. Querem apostar na intemporalidade das peças, não se rendem às tendências da estação e andam à descoberta de novos materiais. São embaixadores da slow fashion e a marca que começaram há 12 anos tem desde novembro a sua primeira loja própria em Lisboa. “É uma marca de moda, porque trabalha com roupa e acessórios, contudo não segue os calendários da moda e não tem a necessidade de apresentar coleções com a regularidade que o mundo da moda exige”, explica Filipe Cardigos ao Observador, um dos dois fundadores da marca. A ele cabe tudo o que diz respeito à comunicação e a Sérgio Gameiro tudo o que envolve o design e a produção, mas o facto de serem uma equipa pequena faz com que muitas tarefas sejam divididas.
Sérgio e Filipe conheceram-se em 2010, depois de terminarem as respetivas licenciaturas, o primeiro em Design e Marketing de Moda e o segundo em Design de Comunicação. “No início não era uma marca, era apenas um projeto para experimentarmos algumas coisas, pô-las no mercado e ver qual a aceitação”. O ponto de partida foram chapéus de chuva usados, e por vezes estragados, que as pessoas vão deitando fora ao longo do inverno. Filipe recolhia-os e lançou a Sérgio o desafio de os reutilizar. O resultado foram uns calções de banho masculinos e assim mergulharam na aventura da wetheknot, o nome que escolheram para o seu projeto desde o seu início.
Em 2011 lançaram a primeira coleção, deixaram para trás os materiais reutilizados e começaram a explorar novas texturas e o novo mundo dos negócios. Apresentaram as suas criações em mercados e a revendedores. Conseguiram colocar peças à venda em lojas nos Países Baixos e no Luxemburgo. Durante algum tempo dividiam-se ambos entre trabalhos como freelancers a tempo parcial e a wetheknot, até que em 2015 a marca deu um salto. Surgiu a oportunidade de integrarem uma loja no Bairro Alto, em Lisboa, que já existia com uma designer de moda e uma marca de acessórios e, foi a partir daqui, que Filipe e Sérgio passaram a dedicar-se à sua marca a tempo inteiro.
O passo mais recente é a abertura de uma loja. “A primeira loja própria já é um sonho bastante antigo” e resulta de uma procura exaustiva que tinha por base uma série de critérios. Filipe e Sérgio encontraram o espaço ideal no bairro de Alfama, também na capital, numa zona onde se passeia a pé e que não está sobrelotada de comércio, como ambicionavam. Encontraram esta morada ainda antes da pandemia, mas os planos ficaram em suspenso e, quando passados quase dois anos voltaram a ele, descobriram que ainda estava disponível e avançaram com o projeto, até que abriram a sua loja ao público a 16 de novembro de 2021. Deixaram a loja que partilhavam no Bairro Alto e fizeram deste novo espaço o seu único foco. Na outra loja estavam com outras marcas com outra filosofia, conta Filipe, agora têm uma proximidade maior com os clientes e podem comunicar melhor os valores da marca.
A primeira coleção de roupa surgiu em 2019 e pode ser encontrada na loja durante todo o ano. As peças refletem a filosofia da marca, aposta na simplicidade e intemporalidade. Não há tendências da estação nem a pressão de apresentar novos modelos com periodicidade apertada. Respeitando o conceito de slow fashion, a wetheknot tem uma coleção permanente, à qual acrescentam novas referências todos os anos. Em 2020 lançaram duas coleções, em 2021 apenas uma e para este ano estão a planear lançar três, contudo as coleções são pequenas e contam com cerca de cinco ou seis peças, entre roupa e acessórios. Se as novas peças resultarem bem e tiverem aceitação do público, integrarão depois a coleção permanente. As peças nem sequer são alusivas à estação do ano, não esperemos, portanto, encontrar t-shirts coloridas por ser verão, ou golas altas por ser inverno.
Os acessórios, por seu lado, apostam na multifuncionalidade. Um bom exemplo é a primeira peça desenhada para esta gama, a “pouch”. Foi criada para tabaco de enrolar, depois foi sendo adaptada e tornou-se numa bolsa versátil que é o atual “best seller” da marca. Os acessórios são feitos em pele vegan, “que é um material sintético composto por algodão, poliéster e poliuretano, e chamámos-lhe assim porque queremos marcar a posição de não usarmos recursos de fonte animal”, explica Filipe. Acrescenta que a utilização de novos materiais é um caminho que começaram agora a explorar e que descobriram muitos materiais reciclados interessantes no mercado, ao ponto das peças serem pensadas em função da textura.
Neste momento têm uma coleção de tote bags feitas em algodão reciclado à venda em exclusivo na loja e também já usaram materiais com plástico reciclado. Têm t-shirts em algodão orgânico escovado com uma textura muito própria e casacos de cupro. “É um material muito interessante, que sobra da fiação do algodão, é processado quimicamente, mas apesar disso tem um toque muito natural e sedoso, por isso também lhe chamamos a seda vegan. As características são muito semelhantes às da seda, mas este material tem outras mais valias.”
É uma marca 100% portuguesa no que toca à confeção. Contudo, no que toca aos materiais, embora sejam comprados em Portugal, alguns não são produzidos por cá, como por exemplo, o acrílico que é usado nos bonés. No site da marca, com loja online, também é possível encontrar produtos de beleza que Filipe explica serem fruto de uma parceria porque também refletem os valores da marca wetheknot. Os sabonetes e champôs são feitos por Teresa e Mário, têm assinatura TerraViva e vêm de Mafra.
A nova morada wetheknot já teve muitas funções, conta Filipe, uma panificadora, um atelier e até parte do restaurante do lado. Hoje continua a ser um espaço de comércio e partilha do conceito de slow fashion. “Acaba por ser um sítio de comunicação com as pessoas, muito além de apenas uma loja que vende roupa e acessórios.” A isto junta-se o facto do atelier da marca ser ali perto e poder até ser visitado se os clientes assim o pedirem. Mas há mais. É também um espaço “pet friendly” que deve esta descrição ao facto de lá entrarem muitos animais, acompanhados pelos donos, ou simplesmente de passagem, como o gato vizinho que faz uma visita diária.