Em março, Emily Bridges saltou para a atualidade desportiva quando, à última da hora, foi impedida de competir na prova feminina dos campeonatos nacionais de omnium no Reino Unido. Na altura, a UCI, o organismo que regula o ciclismo internacional, justificou a decisão com o facto de a atleta ser transgénero e de, por isso mesmo, ser injusto competir contra ciclistas biologicamente do sexo feminino. E até Boris Johnson teve algo a dizer sobre o assunto.

“Não acho que pessoas que são biologicamente do sexo masculino devam competir em eventos desportivos femininos”, disse o primeiro-ministro britânico, numa fase em que Emily Bridges já estava a ser muito criticada e atacada nas redes sociais, essencialmente, por pretender participar nos campeonatos nacionais. O caso recebeu uma importância ainda maior por ter surgido na mesma altura em que, nos Estados Unidos, a nadadora Lia Thomas se tornou a primeira mulher transexual a conquistar uma medalha de ouro nas provas da NCAA, a National Collegiate Athletic Association.

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Agora, Emily Bridges garante que os comentários de Boris Johnson só serviram para intensificar os comentários negativos que já estava a receber. “É muito estranho ver aquele que é provavelmente o homem mais conhecido do Reino Unido a falar sobre ti e a ter uma opinião sobre algo que ele não conhece. A resposta depois disso foi a esperada, recebi ameaças de violência física de autênticos estranhos nas redes sociais. As pessoas têm o direito a uma opinião mas existem formas e formas de expressar essa opinião. E ameaçar que me vão partir os joelhos não é a forma certa”, explicou a ciclista galesa, de 21 anos, em entrevista ao canal ITV.

“Tenho muito medo de ser quem sou em público. Será que alguém me vai reconhecer? Tinha preocupações reais e tinha um medo real depois daqueles comentários. Foi assustador. Eu estava assustada”, completou Bridges, que foi essencialmente acusada de aproveitamento porque, um mês antes dos campeonatos nacionais, tinha competido na prova masculina nos campeonatos universitários.

“Não foi a coisa certa a fazer, provavelmente. Quis fazê-lo porque quis manter-me em forma. Mas assim que saí da pista pensei logo: ‘Não devia ter feito isto’. Porque sabia o que aí vinha”, reconheceu, ainda que justifique a decisão com o facto de ter tido garantias de que poderia estar nos campeonatos nacionais.