O Banco de Portugal recuperou 324.853 notas entre 2002 e 2021, tendo restituído quase 12,6 milhões de euros a cidadãos que tinham notas de euro e escudo destruídas ou mutiladas e que, sem esse serviço, perderiam o dinheiro.

Segundo dados fornecidos à Lusa pelo Banco de Portugal, nesses 20 anos, a maior parte das notas recuperadas foram as de euro, mais de 299.013 no valor de 12,2 milhões de euros, enquanto as notas de escudo valorizadas foram 25.840 tendo sido pagos 358 mil euros.

O ano de 2017 foi aquele em que, pela primeira vez, foi ultrapassado o valor de um milhão de euros devolvido a cidadãos pelo serviço de valorização de notas do banco central. Nesse ano, foram valorizadas 35.636 notas de euro no valor de quase 1,4 milhões de euros e 2.433 notas de escudo no valor de 27 mil euros.

Apenas dos incêndios de 2017 chegaram ao Banco de Portugal 4.022 notas para serem valorizadas.

Mais de 4.000 notas destruídas nos incêndios de Pedrógão Grande foram salvas pelo Banco de Portugal

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Desse ano em diante os pedidos de valorização de notas aumentaram e, com exceção de 2020, em cada ano são valorizados mais de um milhão de euros.

O ano de 2018 foi aquele em que foi pago o valor mais alto, mais de 1,8 milhões de euros com a valorização de 32.167 notas de euro e 5.696 notas de escudo.

Em 2019, foram recuperadas 36.688 notas de euro e 767 notas de escudo e pagos quase 1,3 milhões de euros. Em 2020, foram valorizadas 23.419 notas de euro e 1.700 notas de escudo e pagos 983 mil euros. Por fim, em 2021, foram recuperadas 39.557 notas de euro e 1.339 de escudo e pagos 1,6 milhões de euros.

Desde 01 de março deste ano prescreveram as últimas notas de escudo, pelo que já não mais poderão ser valorizadas.

Qualquer cidadão que tenha notas destruídas ou mutiladas (estragadas por humidade, queimadas, comidas por animais, entre outros motivos) podem enviá-las para o Banco de Portugal para que sejam valorizadas. Para que uma nota de euro seja valorizada, mais de 50% da superfície tem de poder ser reconstituída para ser possível garantir a sua autenticidade pelos elementos de segurança (no caso das notas de escudo eram 75%).

Se for possível valorizar a nota, esta é destruída e é dado aos cidadãos o montante correspondente. Numa nota de 20 euros mesmo que só metade seja visível o valor de 20 euros é creditado na conta do apresentante ou do legítimo proprietário.

Já se as notas forem irreconhecíveis, são dadas como perdidas, destruídas e a proprietário não recebe qualquer compensação.

Todos os casos de notas destruídas que chegam ao Banco de Portugal para serem valorizadas são declarados à Unidade de Informação Financeira da Polícia Judiciária (PJ) e ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), para prevenir eventuais crimes. Na entrega das notas, os cidadãos têm de preencher um formulário com os seus dados e o contexto de como as notas foram destruídas. Se o numerário tiver sido deliberadamente danificado não é elegível para substituição.

Segundo o coordenador da área operacional do numerário (onde se encontra a unidade de valorização de numerário), José Luís Ferreira, há casos em que a valorização não reconhece o valor todo entregue, devido ao estado das notas, e só paga parte.

Outros casos há em que o Banco de Portugal paga mais do que as pessoas achavam que tinham, quando aquelas perderam noção de quanto tinham guardado. Num dos casos relatados à Lusa, um cidadão entregou 200 mil euros em notas danificadas por estarem enterradas e foi pago mais, porque tinha bem mais do que 200 mil euros.

José Luís Ferreira diz que o Banco de Portugal recebe muitas notas para valorizar por correio e que já chegaram de todas as partes do mundo, sobretudo escudos (quando ainda se podiam trocar).

Quando foi a crise bancária de 2008 e houve receio do colapso dos bancos e de perda de poupanças, muitas pessoas levantaram dinheiro e guardaram em casa. Uns anos depois, quando essas mesmas pessoas foram buscar as notas guardadas para usar perceberam que estavam destruídas.

Segundo o responsável da unidade de valorização de numerário do Banco de Portugal, o aumento de notas valorizadas em 2011 e 2012 ter-se-á devido a isso. Se de 2008 a 2010 eram valorizadas, por ano, cerca de oito mil notas; em 2011, foram valorizadas 11.722 notas no valor de 475,4 mil euros e em 2012 foram 12.718 notas no valor de 473,4 mil euros.

Recentemente, na ilha de São Jorge (Açores), o receio de que uma erupção vulcânica destruísse as habitações (como aconteceu nas Canárias, em Espanha) levou a que muitas pessoas fossem buscar dinheiro guardado em casa para depositarem no banco. Então, perceberem o estado das notas e muitas recorreram ao complexo do Carregado do Banco de Portugal para serem valorizadas.

Além de notas destruídas ou mutiladas entregues por cidadãos, o Banco de Portugal também valoriza notas tintadas, por exemplo, por disparos acidentais nas caixas automáticas de distribuição de notas (vulgo multibanco) ou nas malas de transporte de dinheiro. As malas que as empresas de transporte de valores usam para transportar notas têm dispositivos inteligentes que neutralizam as notas quando alguma mobilização estranha acontece, pintando-as com tinta. Se no manusear dessas malas houver disparos acidentais as notas estragadas são valorizadas neste serviço.

Esta área do Banco de Portugal também valoriza moedas, apesar de estas serem muito mais resistentes, sendo também preciso atestar a sua genuinidade e verificar se o dano não foi intencional. Segundo disse à Lusa o Banco de Portugal, entre 2012 e 2022 foram valorizadas mais de 391 mil moedas e pagos mais de 101 mil euros.