Daniel Picazo, jovem assessor político mexicano, foi linchado e queimado vivo, na última sexta-feira, após falsas acusações de que estaria a tentar sequestrar uma criança terem começado a circular na rede de conversação WhatsApp.

Segundo o El País, os residentes de Papatlazolco, no município de Puebla (México), receberam mensagens na referida plataforma que alertavam sobre possíveis raptos de crianças na área e pediam às famílias que tomassem precauções.

A comunidade, então, decidiu organizar-se para deter o alegado criminoso e o assessor da deputada do PAN, Joanna Torres, que viajava com outra pessoa — que escapou ilesa — numa van, foi erradamente identificado como suspeito.

Daniel Picazo foi espancado e transportando para outro local, onde os cerca de 30 atacantes o amarraram, encharcaram o corpo de gasolina e o queimaram quando ainda apresentava sinais vitais. Relatos publicados nas redes sociais indicam que 200 pessoas estariam a assistir.

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Os moradores impediram uma rápida assistência da vítima, impedido a passagem de polícia e equipas médicas que, quando chegaram ao local, já nada podiam fazer para salvar Picazo. A autarquia condenou o ocorrido, classificando-o como um ato de “barbaridade” e defendendo os procedimentos legais de combate aos crimes.

Segundo a BBC, o homicídio está a ser investigado, mas até ao momento nenhum suspeito foi detido. As autoridades, avança o El País, não confirmam a possibilidade de Picazo estar envolvido em possíveis raptos. O jornal assegura mesmo que este costuma ser o motivo alegado por aqueles que recorrem ao linchamento como forma de fazer justiça pelas próprias mãos — em 2016, um suposto violador sofreu o mesmo destino.

A família recorda um jovem que gostava da sua terra e que a visitava com frequência, embora vivesse na Cidade do México — o pai, Nicandro Picazo, detalhou que o assessor político viajava para Papatlazolco a cada dois ou três meses e que “gostava tanto que entrou numa equipa de futebol de Huauchinango”. Já a irmã disse sentir “nojo” pelas pessoas que mataram Picazo.

É uma situação muito difícil e dolorosa. Foi no sábado de manhã que falaram connosco e disseram que naquela cidade houve uma briga, que bateram no meu filho. Ele estava morto”, contou a mãe, Angélica González.

Picazo trabalhou na Câmara dos Deputados até março de 2022 e os deputados já expressaram condolências à família e amigos.

A deputada Johanna Torress vincou que Picazo era “um jovem talentoso e dedicado, comprometido com o seu país e com grandes sonhos na vida“. Já o Partido da Ação Nacional (PAN) exigiu “justiça diante deste infeliz acontecimento”.

A justiça popular não é rara em muitas áreas do México — especialmente nas partes mais remotas, onde a polícia demora a chegar e as populações estão habituadas a fazer justiça com pouco ou nenhum ajuste ao Estado de Direito.