A Ryanair defendeu, esta terça-feira, o polémico teste em língua afrikaans a portadores de passaportes sul-africanos que viajam na Europa, vincando que a África do Sul “tem de resolver os seus problemas”, por existirem “muitos problemas com documentos falsificados”.

“Há muitos problemas com passaportes falsificados. […] A África do Sul tem de resolver os seus problemas”, declarou o presidente-executivo do grupo Ryanair, Michael O’Leary, em conferência de imprensa em Bruxelas.

Em Bruxelas para reuniões com os sindicatos belgas e para discussões sobre as novas regras para o regime de comércio de licenças de emissão da União Europeia, o presidente-executivo do grupo Ryanair, Michael O’Leary, foi questionado sobre a situação denunciada por passageiros sul-africanos, dizendo que a Ryanair “não vai tolerar mais” os alegados documentos falsificados.

“A nossa equipa fez apenas perguntas simples em língua afrikaans. Fazemos muitos testes normalmente”, adiantou o responsável, desvalorizando as polémicas.

O Governo sul-africano declarou-se na segunda-feira “consternado” e “surpreendido” com a companhia aérea Ryanair depois de viajantes terem tornado público que a empresa está a exigir que os portadores de passaportes sul-africanos façam um teste em língua afrikaans.

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O executivo liderado por Cyril Ramaphosa sublinhou que o questionário de conhecimentos gerais sobre a África do Sul na língua afrikaans, falada por menos de 15% da população, não é uma exigência oficial de nenhum país.

“Fomos surpreendidos com a decisão da companhia aérea, porque o Ministério do Interior comunica regularmente com todas as companhias aéreas sobre como validar os passaportes sul-africanos”, disseram fontes do executivo.

O Governo sul-africano reagiu assim às justificações apresentadas pela companhia aérea, que, em resposta à indignação gerada na África do Sul nos últimos dias, alegou ter imposto a medida devido à proliferação de passaportes sul-africanos falsificados.

A polémica começou a crescer no final de maio, depois de sul-africanos que tinham viajado pela Europa com a Ryanair terem partilhado nas redes que tinham sido obrigados a responder a um questionário sobre o seu país em afrikaans, uma das 11 línguas oficiais no país e a que era favorecida nos tempos do regime de segregação racial apartheid.

Entre os viajantes que divulgaram publicamente a sua indignação estava um estudante que voou de Portugal para o Reino Unido e que se submeteu ao exame de duas páginas e disponível apenas em afrikaans sob a ameaça de não receber o cartão de embarque se não respondesse a todas as perguntas, mesmo tendo uma autorização de residência britânica.

Perante estes testemunhos, o Alto Comissariado do Reino Unido em Pretória também entrou na polémica para reafirmar que o questionário da Ryanair não era um “requisito” do Governo britânico, mas sim da companhia aérea, que não tem voos com a África do Sul e continua a defender a realização do questionário.