O socorro na cidade do Porto “está totalmente assegurado”, apesar do fecho do quartel e da central dos Bombeiros Voluntários do Porto, garantiram esta quinta-feira a Comissão Distrital de Proteção Civil e a Câmara Municipal.

“Fui informado da situação hoje de manhã. Em causa está um conflito interno da associação que é uma associação privada. O socorro da cidade do Porto não está em nada comprometido. Quer Batalhão de Sapadores, quer os meios do INEM e os Bombeiros Portuenses estão em alerta”, disse o presidente da Comissão Distrital de Proteção Civil do Porto, Marco Martins, à agência Lusa.

O também autarca de Gondomar disse saber que a situação de hoje é o culminar de “uma disputa interna”, um “conflito com alguns anos” que já terá gerado ações em tribunal.

Também fonte da Câmara Municipal do Porto garantiu à Lusa que “o socorro na cidade está completamente assegurado”. “O socorro na cidade não está em causa e o Batalhão de Sapadores de Bombeiros está ao dispor da população”, referiu fonte camarária.

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A mesma fonte recordou que a Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Porto é uma associação privada, pelo que “a Câmara não se pode imiscuir nos assuntos de foro interno da associação”, disse. “A Câmara tem acompanhado a situação com alguma preocupação. A associação tem sido cumpridora no que diz respeito ao protocolo que a associação tem com a Câmara do Porto”, acrescentou.

O quartel dos Bombeiros Voluntários do Porto, no centro da cidade, está fechado por ordem da direção, situação que deve repetir-se aos fins de semana e feriados por falta de pessoal para apoio à central telefónica, disse esta quinta-feira uma voluntária.

Em declarações à agência Lusa, Iva Bessa contou que a direção que tomou posse há três anos “mandou fechar os portões do quartel e fechar a central, permanecer assim até às 8h, e está a transferir as chamadas de emergência para um civil”.

A bombeira, uma de um total de 13 voluntários que decidiram concentrar-se à porta do quartel esta manhã, descreveu uma situação que tem vindo a arrastar-se no tempo, fez críticas à direção da corporação, disse que os voluntários estão “de pés e mãos atados” e que o “socorro ao povo portuense ficava comprometido”.

“Exigimos a demissão desta direção que está a afundar uma instituição fundada há 147 anos”, acrescentou, lamentando que os bombeiros voluntários estejam “inibidos de fazer a emergência e de poder dar o seu contributo à comunidade”.

A situação foi, entretanto, comunicada ao comandante distrital de operações de socorro, à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, à Liga dos Bombeiros Portugueses, bem como ao comandante do Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto, corporação que agora está a receber as chamadas de emergência da central dos Voluntários do Porto.

Presidente manda abater duas viaturas que “estavam boas para o serviço”, denuncia membro da direção

O membro da direção dos Bombeiros Voluntários do Porto José Robalinho denunciou à Lusa que o presidente daquela corporação, Gustavo Barroco, mandou abater duas viaturas oferecidas que “estavam boas para o serviço”. “Dois carros que nos foram oferecidos por outras corporações de bombeiros e que estavam bons para o serviço foram mandados abater pelo presidente da direção para tentar fazer dinheiro”, disse.

Afirmando “não ter sido consultado” sobre nenhuma das decisões, José Robalinho recorda-se que a primeira viatura, então oferecida pelos Bombeiros de Campo de Ourique, foi abatida há mais de um ano “e rendeu pouco mais de mil euros”.

“A segunda foi há cerca de duas semanas. Era um Volvo, tinha 30 mil quilómetros e estava estacionado nos Bombeiros Portuenses depois de nos ter sido oferecido pelo Batalhão de Bombeiros Sapadores do Porto, para ser transformado num autotanque”, contou o dirigente, afastado das reuniões da direção desde 2021.

Questionado pela Lusa se tinha conhecimento das dívidas da associação revelou que em setembro de 2020 pediu para fazer essa consulta, mas as “únicas contas que mostraram eram de débitos à associação e totalizavam 187 mil euros”. “Fui perguntar aos devedores e mostraram-me que não era verdade. Se me pergunta onde está esse dinheiro, respondo que não sei, como nunca soube se associação devia dinheiro a alguém, porque nunca me mostraram”, acrescentou José Robalinho.

A Lusa contactou o presidente da direção da Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Porto, Gustavo Pereira Barroco, mas até ao momento não obteve resposta.