No mesmo ano em que Juan Manuel Moreno Bonilla se filiou no Partido Popular (PP) em Espanha, um concerto na pequena localidade de Villanueva de Cauche denunciava que a música não estava no horizonte. Num dia em 1989, os “Falsas Realidades” chegaram à festa do padroeiro da aldeia vestidos com calças de ganga largas, camisas com padrões disruptivos e guitarradas que não agradavam aos fãs de pasodoble.

As sonoridades new wave foram recebidos por um silêncio ensurdecedor e os “Falsas Realidades” — que já se tinham chamado “Lapsus Psíquico” e “Cuarto Protocolo” — saíram do palco ainda antes  do autarca cumprir a ameaça que ecoou ao longo de todo o espetáculo: expulsar a banda do palco à força e nem sequer lhes pagar a performance, conta o ABC.

“Juanma” Moreno, como é mais conhecido, era o vocalista dos “Falsas Realidades”. Se a carreira musical foi pautada pelo insucesso, a carreira política culminou este domingo num novo marco para o PP na Andaluzia: o partido venceu as eleições deste domingo na comunidade autónoma, tradicionalmente socialista. Os 43,1% dos votos traduziram-se na primeira maioria absoluta de sempre do partido no parlamento andaluz.

Eleições na Andaluzia. PP vence eleições e consegue maioria absoluta, PSOE tem pior resultado da história

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

É mais fácil votar no Juanma do que votar no PP“, admite o líder partidário da região espanhola, citado pelo La Rioja. Ele próprio descreve-se como “educado e moderado”, alguém que “derrotou a soberba”, mas nem sempre isso bastou: depois de um início de carreira brilhante, Juanma Moreno foi o rosto das maiores derrotas do PP na Andaluzia. A vitória de domingo foi uma ressurreição do partido. E da sua própria imagem política.

Nascido em Barcelona a 1 de maio de 1970, segundo de três filhos de um projetista industrial na Seat e de uma funcionária em centros comerciais naturais de Alhaurín el Grande (Málaga), Juanma tinha três meses quando regressou à terra natal dos pais. Chegou a estudar Psicologia e depois Ensino do 1º Ciclo, mas nunca terminou nenhum dos dois cursos. Quis então ingressar na política e, enquanto ganhava experiência, trabalhou numa pizzaria e também como vendedor.

Uma das professoras descreveu Juanma como “nem brilhante, nem um idiota”: “Não tirava 10 na minha cadeira, mas era muito argumentativo nas aulas”. Havia outro rapaz com o mesmo nome na sua turma, mas o novo líder da Andaluzia era chamado “Juanma mau” por ser travesso, diz o ABC. Mas interessado na vida cívica e política: “Falava das dificuldades que seu pai tinha para pagar impostos e era muito crítico de certas realidades sociais”.

A entrada para a política aconteceu depois de uma participação num comício de José María Aznar, ex-presidente do governo da Espanha. Virou-se então para a direita, deixando para trás a veia de esquerda vinda do avô materno, jornalista e assumidamente socialista. Juanma e um amigo criaram então a Associação Popular de Estudantes na Universidade de Málaga e foi nessa altura que o político demonstrou o seu “magnetismo”: “Sempre teve uma grande capacidade de inspiração”, disse um amigo ao ABC.

Aos 25 anos, Juanma era vereador em Málaga; aos 27 tornou-se deputado no Parlamento andaluz; e aos 29 anos entrou no Congresso, primeiro por Cantábria e depois por Málaga. Em 2011, agora com 41 anos, assumiu a secretaria de Estados dos Assuntos Sociais sob a liderança de Soraya Sáenz de Santamaría. Mas depois entrou na liderança do PP na Andaluza e os obstáculos começaram a surgir.

Em 2015, nas eleições regionais, veio o primeiro: Juanma Moreno perdeu contra a socialista Susana Díaz e não conquistou mais do que 33 deputados, menos 17 do que nas eleições anterior. Três anos mais tarde, veio o maior obstáculo de todos: o PP registou o pior resultado eleitoral de sempre na Andaluzia. Mas foi das cinzas que Juanma Moreno conseguiu reerguer o partido até à vitória histórica deste fim de semana.

Como? Com tenacidade, aponta o ABC com base nas descrições de Juanma partilhadas por quem com ele conviveu desde a juventude. Era gozado pelo povo e pelos opositores políticos à conta do apelido “Bonilla”, que significa “algo crescido que vai ser grande”, apesar de nem sequer reunir muita popularidade política entre o eleitorado. Essa imagem não o condicionou nas eleições deste domingo.