O último governador britânico de Hong Kong, Chris Patten, criticou esta segunda-feira a tentativa de o regime chinês rescrever a história ao referir-se àquele como “um território ocupado” em vez de uma colónia britânica com uma sociedade democrática.

“Se foi ocupado, foi por refugiados e familiares de vítimas do totalitarismo no continente”, disse em Londres numa apresentação do livro “Diários de Hong Kong” para a Associação de Imprensa Estrangeira.

Patten argumentou que foi por ser uma sociedade aberta e livre, que respeitava o Estado de direito, que Hong Kong se tornou num dos maiores centros económicos e financeiros da Ásia.

A ocupação foi por refugiados que encontraram um porto seguro na antiga colónia, a qual tornaram numa das mais bem sucedidas cidades do mundo”, defendeu.

Foi noticiado na semana passada que Hong Kong está a preparar a introdução de novos manuais escolares onde, em vez de se referir ao território chinês como uma antiga colónia britânica, se refere que Hong Kong e Macau foram ocupadas por potências estrangeiras e que a China nunca renunciou à soberania sobre ambos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Novos manuais escolares em Hong Kong dizem que região nunca foi colónia britânica

“Hong Kong é território chinês desde os tempos antigos”, lê-se num novo livro analisado pela agência Associated Press, o qual também afirma que “enquanto Hong Kong foi ocupada pelos britânicos após a Guerra do Ópio, permaneceu território chinês.”

O livro faz parte de uma série de novos manuais escolares com a mesma posição e que estão a ser oferecidos às escolas para substituir os atualmente em uso, noticiou o jornal South China Morning Post.

A posição de Pequim não é nova, mas reforça a tentativa de aumentar o controlo sobre Hong Kong, após as manifestações pró-democracia em 2019.

A China assumiu a administração de Hong Kong em 1997, atribuindo à antiga colónia britânica o estatuto de Região Administrativa Especial durante 50 anos, à luz do princípio “um país, dois sistemas”, com um elevado grau de autonomia.

O Governo chinês atribuiu o mesmo estatuto ao território vizinho de Macau, em 1999, após mais de 400 anos sob administração portuguesa.

A implementação de uma nova Lei de Segurança Nacional chinesa em 2020 propiciou a detenção de dezenas de ativistas, políticos da oposição, jornalistas e académicos em Hong Kong.

Patten atribui esta repressão ao “regime totalitarista e autocrático do Partido Comunista Chinês”, a qual considera violar os termos do acordo anglo-chinês de transferência do território em 1997, que deveria garantir “autonomia, liberdade e Estado de direito” durante 50 anos.

Publicado no 25.º aniversário da passagem da soberania, o livro “The Hong Kong Diaries” [Diários de Hong Kong] foi escrito durante a pandemia Covid-19, com base em apontamentos feitos durante o período de Patten como governador, entre 1992 e 1997.

Antes, foi deputado do Partido Conservador, entre 1979 e 1992, tendo servido como ministro do Ambiente, e mais tarde foi designado comissário europeu para as Relações Externas, entre 1999 e 2004.