A UNESCO está a desenvolver um sistema global de alerta de tsunamis e considera que na zona do Mediterrâneo não há nenhuma comunidade preparada, tendo Portugal apenas alertas caso o fenómeno seja provocado por terramoto.

“Temos todos na memória o terramoto de 1755, em Lisboa, e atualmente Portugal tem um alerta de tsunami originado por tremores de terra que é eficaz e agora é preciso continuar a promover estes alertas não só para tremores de terra, mas também atividade vulcânica e deslizamento de terras”, disse Bernardo Aliaga, especialista do Programa da Comissão Intergovernamental dos Oceanos, em resposta à Agência Lusa.

O Sistema Global de Alerta de Tsunamis visa preparar até 2030 todas as comunidades do Mundo vulneráveis ao acontecimento deste fenómeno, com a UNESCO a alertar esta terça-feira numa conferência de imprensa em Paris para a falta de preparação dos países do Mediterrâneo.

“Há uma urgência em preparar as comunidades para um tsunami e já temos comunidades que começaram este trabalho, como em Kos, na Grécia, ou Istambul, na Turquia, e em 2023 teremos algumas comunidades prontas, mas atualmente não há nenhuma comunidade no Mediterrâneo preparada para um tsunami“, declarou Bernardo Aliaga.

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Portugal faz atualmente parte com França, Itália, Grécia e Turquia do Centro de Vigilância para Tsunamis da Europa e Noroeste Atlântico, com capacidade de em 10 minutos difundir um alerta para as populações em caso de terramoto, com Aliaga a dizer que trabalha em coordenação próxima com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Segundo os estudos oceanográficos e geológicos mais recentes, um tsunami vai acontecer no Mar Mediterrâneo nos 30 próximos anos, com os especialistas a lembrarem em Paris que o fenómeno não é uma onda, mas “um muro de água” com sérias consequências para as regiões atingidas.

“No Mediterrâneo, haverá certamente um tsunami e pode acontecer por diferentes razões: tremor de terra, vulcões ou deslizamento de terras. Se olharmos para as reconstituições históricas e as provas físicas que temos de tsunamis no passado. Com essa informação, podemos estimar as zonas com risco de tsunami, assim como ao estudo das placas tectónicas”, explicou Bernardo Aliaga.

Algumas das regiões mais em risco são Istambul, na Turquia, Alexandria, no Egito, a costa da Argélia, assim como o sul de França ou a Sicília, em Itália.

“Talvez não seja possível dizer que vai acontecer a 100%, mas se o perigo é de 30 ou 40% já é bastante elevado”, concluiu Vladimir Ryabinin, secretário-executivo da Comissão Intergovernamental dos Oceanos.

Esta conferência de imprensa acontece como antecipação da Conferência dos Oceanos que se realiza em Lisboa entre 27 de junho e 1 de julho.

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Delegações de 193 países participarão neste encontro, abordando ameaças aos oceanos, como a perda de oxigenação e consequente acidificação, que destrói a biodiversidade, poluição marinha e formas de “economia azul” que permitam explorar recursos sem os esgotar.

A conferência decorre no Parque das Nações, mas também outros espaços, como a marina e o Pavilhão de Portugal, acolherão iniciativas laterais e organizações não-governamentais que pediram para estar na conferência, com mais de 500 pedidos registados.

Além das sessões plenárias no auditório do Altice arena, decorrerão “diálogos interativos” e outras sessões na adjacente Sala Tejo, com temas como a poluição marinha, redução da acidificação, pesca sustentável e outras metas que fazem parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas para os oceanos.