Imagine que sai de casa ao início de uma noite de domingo, para passear o cão ou despejar o lixo, e se depara com uma enorme espiral azul a dominar o céu noturno, com dois braços gasosos em rotação e a mover-se para norte. Depois de questionar a vestimenta que escolheu levar à rua — logo hoje tinha de escolher o pijama que mais o embaraça para sair — o que pensaria? Que os extraterrestres tinham invadido a Terra? Talvez o planeta estivesse a ser engolido por um buraco negro ou abalroado por uma galáxia? Seria aquilo o fim do mundo? Ou estaria apenas a sonhar?
Spirals of blue light in New Zealand night sky leave stargazers ‘kind of freaking out’ pic.twitter.com/wt0vn8j9KM
— Shobana (@Shobana_29) June 20, 2022
Este foi o cenário, digno do imaginário de Herbert George Wells em “Guerra dos Mundos” , com que foram presenteados no domingo à noite os terráqueos neozelandeses entre a cidade de Nelson e a Ilha Stewart — uma distância em linha reta de 771 quilómetros.
A espiral apareceu nos céus por volta das 19h20 do último domingo (hora local), atravessou a esfera celestial e, ao fim de alguns minutos, já tinha triplicado de tamanho. Começou a dissipar-se ao fim de 10 minutos, tempo suficiente para os neozelandeses inundarem as redes sociais de fotografias do fenómeno em busca de respostas.
Cool spirals of blue light in the sky created by Globalstar FM15 Mission boaster stages as it approached New Zealand ????https://t.co/qShAfL3XJp pic.twitter.com/0ICm3eCxlJ
— Just filling the Void (@void309) June 20, 2022
Embora as visitas alienígenas e os portais para outras dimensões sejam teorias mais sedutoras para explicar a misteriosa espiral azul, a explicação é muito menos complexa: de acordo com a Sociedade Astronómica de New Plymouth, as nuvens azuis e brilhantes terão sido causados por um foguetão da SpaceX — o Falcon 9, que tinha partido do Cabo Canaveral, no estado norte-americano da Flórida, levado um satélite de comunicações para a baixa órbita terrestre.
O foguetão sobrevoou a Nova Zelândia por duas vezes: a primeira às 17h30 de Wellington (uma hora depois de ter sido lançado) e a segunda duas horas mais tarde, precisamente quando a espiral surgiu no céu. O fenómeno deve ter sido causado pelo rasto, rico em dióxido de carbono e água, deixado pelos propulsores. Essa pluma gasosa costuma ser libertada diretamente atrás do foguetão. Mas, se tal não acontecer, o impulso pode fazer com que ele gire, causando as espirais.
New post (Elon Musk's dying rocket is mistaken for an extraterrestrial blue spiral seen in New Zealand's skies) has been published on UFO World News – https://t.co/bAxJ9N1sum pic.twitter.com/LzrAmTINCm
— UFO World News (@ufoworldnews) June 20, 2022
Já a coloração azul foi o resultado do ângulo com que a luz do Sol atravessou as nuvens. É o mesmo mecanismo que explica as cores alaranjadas que se observam ao por do Sol, por exemplo. A órbita do foguetão, o ângulo dos raios solares e a posição dos habitantes em relação à nossa estrela resultaram num avistamento que os neozelandeses descreveram como “assustadora” e até “bizarra”, mas igualmente “bonita”.
Foi isso que Alasdair Burns, um guia de observação de estrelas, contou à imprensa neozelandesa: “Parecia uma enorme galáxia espiral, apenas pendurada no céu e a flutuar lentamente”. “Fomos rapidamente bater às portas de todos os nossos vizinhos para avisá-los também. E a certa altura éramos uns cinco, todos na nossa varanda compartilhada, a olhar para cima e meio que, bem, a passarmo-nos um pouco”, recordou o astrónomo. Jen Ross, que trabalha com Alasdair numa empresa que oferece experiências de observação noturna, garantiu que a espiral azul era algo “que nunca tinha visto na vida” e “absolutamente incrível”.