Imagine que sai de casa ao início de uma noite de domingo, para passear o cão ou despejar o lixo, e se depara com uma enorme espiral azul a dominar o céu noturno, com dois braços gasosos em rotação e a mover-se para norte. Depois de questionar a vestimenta que escolheu levar à rua — logo hoje tinha de escolher o pijama que mais o embaraça para sair — o que pensaria? Que os extraterrestres tinham invadido a Terra? Talvez o planeta estivesse a ser engolido por um buraco negro ou abalroado por uma galáxia? Seria aquilo o fim do mundo? Ou estaria apenas a sonhar?

Este foi o cenário, digno do imaginário de Herbert George Wells em “Guerra dos Mundos” , com que foram  presenteados no domingo à noite os terráqueos neozelandeses entre a cidade de Nelson e a Ilha Stewart — uma distância em linha reta de 771 quilómetros.

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A espiral apareceu nos céus por volta das 19h20 do último domingo (hora local), atravessou a esfera celestial e, ao fim de alguns minutos, já tinha triplicado de tamanho. Começou a dissipar-se ao fim de 10 minutos, tempo suficiente para os neozelandeses inundarem as redes sociais de fotografias do fenómeno em busca de respostas.

Embora as visitas alienígenas e os portais para outras dimensões sejam teorias mais sedutoras para explicar a misteriosa espiral azul, a explicação é muito menos complexa: de acordo com a Sociedade Astronómica de New Plymouth, as nuvens azuis e brilhantes terão sido causados por um foguetão da SpaceX — o Falcon 9, que tinha partido do Cabo Canaveral, no estado norte-americano da Flórida, levado um satélite de comunicações para a baixa órbita terrestre.

O foguetão sobrevoou a Nova Zelândia por duas vezes: a primeira às 17h30 de Wellington (uma hora depois de ter sido lançado) e a segunda duas horas mais tarde, precisamente quando a espiral surgiu no céu. O fenómeno deve ter sido causado pelo rasto, rico em dióxido de carbono e água, deixado pelos propulsores. Essa pluma gasosa costuma ser libertada diretamente atrás do foguetão. Mas, se tal não acontecer, o impulso pode fazer com que ele gire, causando as espirais.

Já a coloração azul foi o resultado do ângulo com que a luz do Sol atravessou as nuvens. É o mesmo mecanismo que explica as cores alaranjadas que se observam ao por do Sol, por exemplo. A órbita do foguetão, o ângulo dos raios solares e a posição dos habitantes em relação à nossa estrela resultaram num avistamento que os neozelandeses descreveram como “assustadora” e até “bizarra”, mas igualmente “bonita”.

Foi isso que Alasdair Burns, um guia de observação de estrelas, contou à imprensa neozelandesa: “Parecia uma enorme galáxia espiral, apenas pendurada no céu e a flutuar lentamente”. “Fomos rapidamente bater às portas de todos os nossos vizinhos para avisá-los também. E a certa altura éramos uns cinco, todos na nossa varanda compartilhada, a olhar para cima e meio que, bem, a passarmo-nos um pouco”, recordou o astrónomo. Jen Ross, que trabalha com Alasdair numa empresa que oferece experiências de observação noturna, garantiu que a espiral azul era algo “que nunca tinha visto na vida” e “absolutamente incrível”.