Uma “mudança radical” de produto, do tipo de clientes, do tipo de mercado e, acima de tudo, da marca. É o adeus à startup portuguesa Rnters — que criou o projeto Pinheiro Bombeiro — e que deixa de existir para dizer “olá” à Flecto.

Porém, a visão mantém-se a mesma. Quem o garante é Guilherme Guerra, CEO da Flecto que já era o líder da Rnters, e para quem a mudança é o “repensar do consumo por um futuro mais sustentável”. O objetivo também permanece inalterado: “Continuar a ser uma alternativa viável à compra”. Como? Através do aluguer de quase todo o tipo de produtos. Porém, agora deixa de ser qualquer pessoa a conseguir “anunciar” os objetos que tem em casa a ganhar pó. A partir desta quarta-feira, só as empresas vão poder alugar os seus serviços e produtos.

Eu, Guilherme, que tenho uma prancha de surf, já não a vou poder disponibilizar para ser alugada e com isso lucrar com um artigo que tinha parado em casa e que não utilizava todos os dias”, afirma o CEO da Flecto, em declarações ao Observador por videochamada.

Mesmo assim, os particulares ainda conseguem aceder ao website da startup portuguesa. Quando encontram o produto de que estavam à procura, a Flecto disponibiliza “o contacto direto” com a empresa, que pode “enviar apenas um link” para que o cliente faça todo o processo de aluguer — desde o registo de informação à escolha do método do pagamento ou o validar de documentos.

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“Uma experiência super suave” que culmina com a entrega do produto — que é organizada consoante o que é melhor para o anunciante. A startup portuguesa ainda não consegue ajudar as empresas com as entregas, mas “a ideia é que este ano” consiga disponibilizar uma ferramenta através da qual os negócios consigam consultar o preço para entregar um produto em casa ou para deixá-lo um ponto de recolha, e assim perceber qual a modalidade mais vantajosa. Todavia, as empresas já têm acesso a uma apólice de seguro profissional para proteção de todos os seus produtos e a possibilidade de criarem a sua loja online.

Os clientes da nova startup são “empresas de retalho ou de aluguer de equipamento”, por exemplo de material de construção, audiovisual ou material desportivo — do surf ao golfe. E existem também os “freelancers”, que “são profissionais de uma área” que querem alugar um determinado material de “forma mais simples”, “mais rápida” e “mais segura”.

São as empresas que usam o nosso software para gerir as operações de aluguer ou as operações de economia circular que tenham”, salienta Guilherme ao Observador.

Questionado sobre o que motivou esta mudança, de empresa e de nome, Guilherme Guerra explica que foi a consciencialização dos “problemas” da indústria. “Esta mudança nasce porque nós fomos percebendo com o tempo que tínhamos muitas empresas a entrar para a Rnters para construir a sua loja online de aluguer. Percebemos rapidamente que, dentro da indústria do aluguer, existiam vários problemas que nós poderíamos resolver, a nível de melhorar a experiência do aluguer para o consumidor final, digitalizando todo esse processo.”

Nós não queríamos ser intermediário do aluguer, nunca quisemos”, justifica ainda.

A ‘mudança de direção’ — expressão que é o significado de Flecto em latim — e a “curva de circularidade em que se maximiza a utilização de todos os produtos” que a nova startup quer fazer contam com o financiamento de 1,2 milhões de euros que recebeu numa ronda de investimento liderada pela MSM, Übermorgen e Techstars. Este valor permite à empresa apostar em “três pilares”:

  1. “Desenvolver a Flecto enquanto produto e marca com todos os conhecimentos que já tínhamos da Rnters.”
  2. “Crescer enquanto equipa para consolidar o mercado da Ibéria.”
  3. “Num terceiro eixo abrir novos mercados. Para nós os que fazem sentido são todos na Europa Ocidental: Reino Unido, França, Itália e Alemanha.”

A Flecto conta com 150 clientes — como a Click and Play Rent, Comercial Foto e Lisboa Autêntica — e espera chegar aos 300 até ao final do ano, com a consolidação de Portugal e Espanha, para depois se lançar para outros mercados. Embora Guilherme Guerra explique ao Observador que “qualquer empresa de qualquer lado do mundo” pode utilizar a Flecto para disponibilizar os seus produtos para aluguer. A “ambição” do CEO passa também por conseguir ter uma equipa de cerca de 20 pessoas até ao final do ano, sendo que atualmente conta com 13 trabalhadores.

Através da plataforma Flecto, qualquer marca pode oferecer uma alternativa à compra e, deste modo, fazer parte da economia circular, um mercado que só na Europa Ocidental vale 36 mil milhões”, lê-se num comunicado emitido pela empresa e enviado ao Observador.

Questionado sobre a avaliação da própria Flecto, Guilherme Guerra diz que esses valores são “privados”, e sobre a comissão cobrada às empresas clientes da startup também é vago. “Os preços dependem muito do tipo de volume que estas empresas têm. Cobramos sempre uma subscrição mensal e depois somos flexíveis o suficiente para acomodar tanto freelancers como grandes retalhistas. Um grande retalhista vai ter uma subscrição muito mais alta e taxas de aluguer muito mais baixas porque tem muito volume. Um freelancer consegue ter subscrições muito mais baixas com taxas de aluguer muito mais altas”, acrescenta.