Tal como está a acontecer em Portugal, os países europeus, em particular da metade ocidental, não estão livres de enfrentar uma nova vaga de infeções provocadas pelo coronavírus SARS-CoV-2 durante o verão. Os números ainda não se aproximam da situação portuguesa, mas alguns países demonstram um crescimento mais ou menos contínuo desde o início do mês.

Covid-19. Portugal continua o país da UE com mais novos casos e segundo do mundo

Alemanha, Grécia e Itália duplicaram as infeções diárias por milhão de habitantes (média a sete dias) entre 1 e 21 de junho. O Luxemburgo triplicou. Portugal, por sua vez, reduziu quase para metade os casos diários. Com valores mais baixos, muitos dos países no leste da Europa e nos Balcãs, como Croácia, República Checa ou Hungria mantêm-se abaixo dos 200 casos por milhão de habitantes (a sete dias).

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O Reino Unido demonstra uma subida abrupta do número de casos e internamentos, segundo os dados do Gabinete Oficial de Estatística britânico, citados pela revista científica BMJ. “Seremos o primeiro — mas não o último — grande país a ter uma vaga [da linhagem da Ómicron] BA.4.5 depois de ter tido duas vagas anteriores [desta variante]”, escreveu Christina Pagel, professora de investigação operacional no University College de Londres, na BMJ. “Uma proporção significativa do país ficará doente, especialmente porque o efeito das doses de reforço na proteção está a diminuir.”

Como resultado desta nova vaga, alerta a especialista, vai sentir-se uma maior pressão no serviço nacional de saúde (NHS), já com dificuldade em dar resposta às necessidades da população, uma maior perturbação nas empresas e serviços com a ausência dos trabalhadores doentes e mais pessoas terão covid longa.

Esta é a terceira onda de Covid-19 em seis meses [no Reino Unido] e a variante Ómicron parece realmente diferente na forma como pode levar à repetição destas vagas de infeção”, destacou Christina Pagel.

“O período das férias está prestes a começar, quase todas as restrições foram levantadas e as coisas podem recomeçar muito rapidamente“, declarou, por seu turno, Damien Mascret, médico e jornalista francês, na televisão France 2. O comentador usou a situação em Portugal para alertar que o aumento do número de casos se pode traduzir também num aumento do número de mortes, em particular pela falta de adesão dos maiores de 60 anos às doses de reforço da vacina contra a Covid-19. O mesmo se passa com a quarta dose da vacina para maiores de 75 anos em Inglaterra, segundo o jornal The Guardian.

Walter Ricciardi, conselheiro científico do ministro da Saúde italiano, alertou que o calor não tem como efeito abrandar a pandemia ou a transmissão do vírus como se chegou a pensar. O que acontece é que com o frio, no inverno, as pessoas se juntam mais em casa e aumentam o risco de transmissão, disse ao jornal Adnkronos. Mas, no verão, mesmo no exterior, as pessoas convivem mais e participam em eventos com um maior número de pessoas (como os festivais de música), concluiu.

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Esta, aliás, foi a realidade dos últimos dois verões. No final de maio de 2020, o número de novos casos de infeção com o SARS-CoV-2 em Portugal (média a sete dias) ultrapassou a média europeia e mundial e assim se manteve durante quase dois meses. Em meados de julho, no entanto, quando Portugal via reduzir o número de novos infetados, subiam os casos em países como Espanha, França e Reino Unido, e aumentavam os números na Europa e no mundo.

Em meados de junho de 2021, Portugal viu subir o número de casos de infeção com o coronavírus, mas Espanha e o Reino Unido atingiram picos muito mais altos antes do final do mês. Por essa altura, a Europa registava globalmente os valores mais altos do verão.

Olhando para os últimos dois anos, em vários locais diferentes, ter uma vaga de casos de três em três meses parece ser o padrão. Portanto, não é de surpreender que esteja a acontecer novamente e que devamos esperar outra vaga este inverno”, escreveu Devi Sridhar, coordenadora da cadeira de Saúde Pública Global da Universidade de Edimburgo, no The Guardian.

Para o verão de 2022, mantém-se muitas das recomendações: vacinas de reforço para os mais velhos e mais vulneráveis, testagem e isolamento, uso de máscaras em espaços fechados ou com muitas pessoas e uma preparação atempada da época outono-inverno, referiram os especialistas citados pelo The Guardian. O baixar da guarda, a redução da testagem e vigilância de novas mutações nas variantes do vírus fragilizam a capacidade de resposta rápida por parte dos países, reforçam os especialistas citados pelo jornal The Finantial Times.

Portugal tem aumentado o número de hospitalizações como resultado da infeção com coronavírus desde o início do mês de junho, mas, de acordo com o jornal britânico, também a Alemanha, França e Reino Unido, por exemplo, têm aumentado os internamentos nos últimos dias.

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