A Universidade de Aveiro revelou esta terça-feira, em livro digital, os resultados das prospeções feitas na Agra do Crasto, antes das obras de expansão do seu campus, que confirmam a presença humana há milhares de anos.

Com estruturas datáveis do Neolítico, Calcolítico e Idade do Ferro, o “sítio” arqueológico é considerado “de importância significativa no contexto pré e proto-histórico”, sendo o mais ocidental do género identificado até hoje, segundo os investigadores que sobre ele se debruçaram.

Os trabalhos arqueológicos e geofísicos das campanhas realizadas em 2004 e 2005, para a expansão da Universidade, são reunidos na publicação digital (e-book) intitulada “Agra do Crasto”, lançada ao final da tarde, em sessão presidida pelo reitor, Paulo Jorge Ferreira.

Dos resultados divulgados, “de relevância científica”, além da multiplicidade de períodos de ocupação a justificar análise mais aprofundada, resulta a conclusão de que as prospeções devem prosseguir, tanto mais que as escavações tiveram caráter preventivo e de salvaguarda e os dados geofísicos apontam para maior extensão.

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Entre o que foi encontrado nas prospeções e escavações arqueológicas é detetável uma ocupação com o que terão sido cabanas construídas em materiais perecíveis de que restam os “buracos de poste”, em redor dos quais foram encontrados vasos cerâmicos, artefactos lítios e pontas de sílex.

O livro Agra do Crasto, uma coletânea de trabalhos arqueológicos e geofísicos, revela também “plantas subcirculares e ovaladas com artefactos do século VII a V aC”, sendo que foi identificada uma enigmática estrutura negativa forrada a argila do Neolítico e encontrados vestígios antigos do que poderá corresponder a uma estrutura de combustão.

Na elevação aplanada, a cerca de 12 metros de altitude, situada entre o Esteiro de São Pedro e a Vala do Marrona, nos limites dos concelhos de Aveiro e de Ílhavo, foram ainda identificadas várias incisões no terreno feitas no período medieval e que correspondem ao plantio de vinhas.

“Um grande conjunto de informação é agora disponibilizada e publicada no livro online, coletânea que reúne relatórios técnicos e outros trabalhos, e tem como principais objetivos divulgar o conhecimento que existe sobre a história desta região e suscitar estudos aprofundados sobre a zona”, descreve a Universidade.

“Corria o ano de 2003 quando investigadores da Universidade de Aveiro (UA) encontraram vestígios que indicavam poder ter existido, há milhares de anos, uma povoação na zona da Agra do Crasto, atual campus da UA, referenciada por Alberto Souto na década de 40 do século passado” e desde então foram realizadas várias campanhas no local.

A instituição de ensino superior salienta que tem manifestado “o interesse científico e patrimonial de preservação e conservação deste lugar”, procurando reunir na coletânea agora lançada “toda a informação que existe do local”.

O e-book foi editado, através da Editora da Universidade de Aveiro, por António Manuel Silva, Investigador do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória da Universidade do Porto e do Centro de Arqueologia de Arouca, e também por Sérgio Gomes, Investigador no Centro de Estudos em Arqueologia.

Durante a sessão de lançamento do livro, o Centro de Arqueologia de Arouca e a Universidade de Aveiro assinaram o termo de depósito do espólio arqueológico da Agra do Crasto.