Com mais de 3.400 anos, emergiu das margens do Rio Tigre, no Iraque, a cidade histórica de Zakhiku, que os arqueólogos acreditam ter pertencido ao reino Mittani (1.550 a 1.350 a.C.). “O milagre” deve-se à seca extrema que o país do Oriente Médio tem enfrentado, sendo um dos territórios mais afetados com as alterações climáticas.

Construída num local que se manteve habitado maioritariamente por curdos, a cidade foi submersa com a criação da barragem de Mossul na década de 1980, durante o regime de Saddam Hussein. Este ano, quando os níveis da água do rio inesperadamente desceram devido à seca extrema que atinge o Iraque, surgiu a oportunidade para uma equipa de arqueólogos iniciarem, em janeiro e fevereiro, as escavações.

É que a cidade em ruínas está quase sempre debaixo de água, embora possa pontualmente ficar visível nos meses de verão, como novembro, onde o clima é mais severo e é necessário retirar água do reservatório de Mussol (ao longo do rio Tigre) para que as plantações da região sobrevivam à seca. Mas nunca como agora ficou assim acessível, dado que as altas temperaturas exigiram que mais água fosse utilizada e não houve chuva suficiente parao caudal do rio subir e voltar a encher a albufeira.

Sem saber quando as águas poderiam voltar a subir, Ivana Puljiz, uma das diretoras do projeto arqueológico não perdeu tempo: sabia que a equipa teria de escavar o máximo de área possível em contra-relógio. “Devido à enorme pressão do tempo, cavámos em temperaturas congelantes, neve, granizo, chuva, até tempestades, e também dias ocasionais de sol, sem sabermos quando a água poderia subir e quanto tempo nos restava”, expõe à CNN.

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Atualmente, a cidade encontra-se já novamente submersa mas a equipa conseguiu mapear este espaço arqueológico do império que se estendia desde o mar Mediterrâneo até ao norte do Iraque. E fez algumas descobertas que muito a entusiasmaram, como cinco vasos de cerâmica com mais de cem tabuletas cuneiformes de argila crua.

“É quase um milagre que estas tabuletas tenham sobrevivido tantas décadas debaixo de água”, afirma Peter Pfälzner, um dos diretores da escavação e professor da universidade alemã de Tubingen.

Estes artefactos podem trazer informações importantes sobre o início do domínio dos assírios — outra civilização antiga que também habitou a região séculos depois da queda dos sumérios. Para já, os vestígios descobertos da cidade de Zakhiku encontram-se armazenados e preservados no museu nacional de Duhok.

Não é a primeira vez que esta cidade é alvo de estudo. Um palácio já tinha sido encontrado no ano de 2018, quando emergiu brevemente, contudo durante a última escavação foram encontradas estruturas adicionais “ao centro importante do reino” disse Hasan Ahmed Qasim, o arqueólogo da Organização de Arqueologia do Curdistão do Iraque, ao site de notícias ScienceAlert. Agora foram também descobertas torres e paredes além de um edifício de armazenamento com vários andares. Em 1.350 a.C, a cidade sofreu um terramoto sendo que parte das paredes superiores desmoronou-se e cobriu as estruturas.

Puljiz revela que se encontra curiosa para ver o resultado do estudo dos textos encontrados em artefactos como as tabuletas pois acredita que estas podem ter informações sobre a vida dos habitantes após a tragédia.

Ciente de que a cidade de Zakhiku pode trazer oportunidades únicas de estudar uma matriz cultural que interessa preservar, a equipa, antes que a cidade voltasse a desaparecer na água, cobriu as ruínas com plástico e pedras, na esperança que consigam sobreviver à erosão do meio ambiente.

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