O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação português acusou esta quinta-feira a Rússia de utilizar a fome como arma, o que está a fustigar vários países, ainda a braços com o impacto da pandemia de Covid-19.

A Rússia está a utilizar táticas completamente inaceitáveis, desumanas, típicas da idade medieval e a utilizar a fome como arma não só na Ucrânia, mas a alastrar essa fome a muitos outros países do mundo, o que é condenável e tem que cessar de imediato”, disse Francisco André à agência Lusa.

No final da sessão de abertura da reunião do Comité de Acompanhamento UE-ACP (União Europeia-África, Caraíbas e Pacífico), composto por membros do Comité Económico e Social Europeu (CESE) da EU, o governante considerou que este encontro tem “uma importância vital”.

Os efeitos da agressão russa [à Ucrânia] vão muito para lá do espaço europeu“, disse, referindo-se às “disrupções graves que o conflito está a causar na produção agroalimentar e nas cadeias de abastecimento, afetando, ainda mais, os que já estavam a par com as maiores crises” por causa da pandemia.

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Para Francisco André, o trabalho diplomático é determinante nesta altura, principalmente quando envolve um grupo com a dimensão da UE-ACP, que conta com 1,5 mil milhões de pessoas, a maioria dos Estados da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Exigimos que a Rússia cesse este conflito, que termine de imediato a sua invasão à Ucrânia, que os responsáveis por aqueles atos bárbaros possam ser levados à justiça e que todos consigamos trabalhar rapidamente para encontrar soluções que evitem que aqueles países que já foram os mais afetados pela crise pandémica que acabámos de viver sejam, em cima disso, fustigados com as consequências ainda mais graves, porque são nesses países que as consequências são mais graves“, disse.

O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros português considera que “a decisão da Rússia de bloquear, de atacar instalações e estruturas de produção agroalimentar está a causar este problema de emergência alimentar que vivemos um pouco em todo o mundo”.

Anfitriã do encontro desta quinta-feira, a chefe da Representação da Comissão Europeia em Lisboa, Sofia Moreira de Sousa, disse à Lusa que “a palavra parceria é a palavra-chave”.

“Com desafios globais, temos de trabalhar em conjunto”, defendeu, considerando a parceria (UE-ACP) de “extremamente importante”, pois permite “o diálogo extremamente urgente, a partilha de visões e de soluções”.

“Com este diálogo, há instrumentos financeiros e políticos que permitem aplicar essas soluções. Depois, identificadas as áreas prioritárias de trabalho — luta contra as alterações climáticas e a pobreza — é preciso canalizar os instrumentos para implementar as soluções“, disse.

E sublinhou: “Sozinhos não chegamos lá. As soluções passam por este diálogo e o envolvimento de todos”.

Sobre a guerra, Sofia Moreira de Sousa considerou que “estão a ser questionados princípios de direito internacional e princípios universais” e que é preciso “ter uma resposta ao que está a acontecer”.

A embaixadora elencou outras consequências do conflito como “a disrupção das cadeias energéticas e alimentares”.

“Temos de trabalhar em conjunto, porque há países com condições, até pela produção de recursos energéticos e alimentares, e que têm de se sentar à mesa e procurar soluções para todas estas consequências que estamos a ver hoje e outras que ainda não conseguimos medir a amplitude”, acrescentou.

Para a diplomata, “as consequências da guerra vão muito além do continente europeu“.

O Comité de Acompanhamento UE-ACP é responsável pela organização de várias atividades com grupos de interesses económicos e sociais dos países ACP e é dirigido pelo Comité Económico e Social Europeu (CESE).

É igualmente responsável pela orientação das relações e atividades a nível pan-africano (reuniões dos grupos de interesse económico e social África-UE e relações com o Comité Económico, Social e Cultural da União Africana).