O ex-Presidente brasileiro Lula da Silva questionou esta quinta-feira a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro que integrou a equipa do atual Governo por supostos crimes de corrupção, alegando que “não se pode prender” se não houver provas.
A prisão depende de uma investigação, de provas. Você não pode prender por prender. Não. Há provas contra o cidadão? Está comprovado que ele roubou? É preciso fazer um processo e a Justiça decidir se vai parar ou não”, afirmou Lula da Silva.
“Defendo o direito à defesa de todos. O direito à defesa é um valor monumental da democracia neste país”, referiu o ex-Presidente brasileiro em entrevista à Rádio Difusora de Manaus, referindo-se à prisão do ex-ministro da educação numa investigação de corrupção sobre alegada atribuição de verbas públicas intermediada por dois pastores evangélicos junto a prefeitos em troca de suborno.
Lula da Silva frisou não saber se Milton Ribeiro foi investigado, se há autorização da Justiça para o deter, mas considerou que este “foi um mau ministro da Educação”.
A Polícia Federal brasileira realizou na quarta-feira uma operação para investigar a alegada prática de tráfico de influência e corrupção para a atribuição de recursos públicos no Ministério da Educação num caso que envolve um ex-ministro e dois pastores evangélicos.
Milton Ribeiro foi detido na sua casa na cidade de Santos, no litoral do estado de São Paulo.
A Polícia Federal brasileira investiga um suposto favorecimento na atribuição de verbas públicas para prefeituras que aceitassem pagar subornos em barras de ouro e até mesmo a confeção de Bíblias para pastores evangélicos que agiam alegadamente com a concordância de Minton Ribeiro.
O caso tornou-se um escândalo no Brasil após a revelação de um áudio em que o ex-ministro, que também é pastor evangélico presbiteriano, assegurou que o orçamento público da pasta que comandava teria entre as suas prioridades promover projetos de igrejas evangélicas ligados ao Governo.
“A minha prioridade é atender, em primeiro lugar, os municípios que mais precisam e, em segundo lugar, atender a todos aqueles que são amigos do pastor Gilmar”, disse Milton Ribeiro, segundo a gravação divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo.
O ex-ministro da Educação afirmou, na gravação, que a prioridade ao pastor “foi um pedido especial feito pelo Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro”, mas depois acabaria por desmentir esta declaração.
O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, já reagiu, frisando que Milton Ribeiro responde pelos seus atos.
Bolsonaro diz que ex-ministro da Educação investigado por corrupção responde por seus atos
“O caso do Milton [Ribeiro], pelo que eu estou sabendo, é aquela questão que ele estaria com a conversa meio informal demais com algumas pessoas de confiança dele. Houve denúncia que ele teria buscado prefeitos, gente dele, para negociar, para liberar recurso, isto e aquilo”, disse o Presidente brasileiro, numa entrevista á rádio Itatiaia.
“O que acontece? Nós afastámos ele. Se tem prisão, é a Polícia Federal, é sinal de que a Polícia Federal está agindo. Ele responda pelos atos dele”, acrescentou Bolsonaro.
A declaração do chefe de Estado brasileiro indica uma mudança de postura já que em março, quando o escândalo sobre o suposto esquema de corrupção envolvendo pastores evangélicos e o ex-ministro foi denunciado pelos media locais, afirmou confiar em Ribeiro.
“Coloco a minha cara no fogo pelo Milton [Ribeiro], o que estão fazendo com ele é covardia”, afirmou o Presidente durante a transmissão ao vivo que faz semanalmente nas redes sociais, quando o escândalo foi revelado em março.
A prisão de Ribeiro faz parte da operação Acesso Pago da Polícia Federal realizada com base em documentos, depoimentos e relatório final da investigação preliminar sumária da Controladoria-Geral da União, reunidos em inquérito policial, e foram identificados possíveis indícios de prática criminosa para a atribuição das verbas públicas.
Segundo a autoridade policial, a investigação iniciou-se com a autorização do Supremo Tribunal Federal, devido ao foro privilegiado de um dos investigados.
As ordens judiciais foram emitidas pela 15.ª Vara Federal Criminal da Secção Judiciária do Distrito Federal.