A câmara de Quelimane, em Moçambique, e a Universidade Nova de Lisboa têm um acordo de cooperação, nomeadamente na área do clima, permitindo traçar políticas públicas que sejam definidas pelos dados empíricos recolhidos pelos investigadores, disse à Lusa o presidente.

“Muitas vezes os gestores públicos tomam decisões que não são baseadas em factos, porque não têm os instrumentos para a tomada de decisões”, disse Manuel de Araújo, em declarações à Lusa no seguimento da sua participação na Conferência NOVAFRICA 2022 sobre Desenvolvimento Económico, que decorre até hoje em Carcavelos, nos arredores de Lisboa.

“O acordo de cooperação com a Universidade Nova permite traçar políticas públicas que vão influenciar o que está a acontecer“, explicou o autarca, apontando como exemplos os estudos que estão a ser feitos sobre as alterações climáticas e o uso de bicicletas nesta cidade moçambicana.

Os pesquisadores universitários trabalham em vários projetos na cidade, um deles é sobre mudanças climáticas, adiantou Manuel de Araújo.

“Eles trazem-nos dados que não temos capacidade de sistematizar, e ao mesmo tempo que trabalham para o seu mestrado ou doutoramento, também transferem conhecimento para os funcionários do município”, explicou.

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Outra das áreas em que há investigadores da Nova é na utilização de bicicletas na cidade, que tem o maior número per capita destes veículos em Moçambique.

É preciso compreender esse fenómeno, saber de onde são, o que fazem, o que ganham, e nos não temos capacidade para fazer esse estudo, e então a universidade manda os seus estudantes, que nos entregam o resultado, e assim melhoramos o nosso conhecimento sobre uma realidade que é a nossa, e é essa cooperação que tem servido como bússola para o processo de governação”, concluiu o autarca.

Em Quelimane, disse Manuel de Araújo à Lusa em fevereiro, para além de um meio de transporte, a bicicleta “passou a ser um instrumento de inclusão e de emprego”, com cerca de cinco mil jovens “que têm o seu emprego” devido ao veículo de duas rodas, adaptado ao transporte de um passageiro.

“O meio de transporte público mais usado na cidade de Quelimane é o táxi-bicicleta”, revelou o autarca, explicando que a zona traseira do veículo, atrás do selim — que, em alguns modelos elétricos, em Portugal e noutros países, é ocupada pela bateria — na cidade moçambicana é transformada num segundo assento.

“Andar de bicicleta em Quelimane passou a ser moda, as pessoas sentem orgulho. E os ciclistas, que eram desprezados pela polícia, hoje os munícipes de Quelimane chamam-lhes ‘os filhos do Araújo’ (…) E na África austral, nos países de expressão inglesa, eu tenho o cognome de ‘cycling man‘, o presidente do município que anda de bicicleta”, observou.

Na visita a Portugal em fevereiro, Manuel de Araújo firmou vários acordos de cooperação em áreas como a formação ou a mobilidade, entre outras, com as autarquias de Coimbra, Leiria, Cantanhede ou Águeda, o município do distrito de Aveiro que tem tradição industrial nos velocípedes.