“Recreio”

A pequena Nora vai para a escola pela primeira vez. Quando vê o irmão mais velho, Abel, a maltratar um menino da idade dela, sai em defesa deste, fazendo com que Abel passe a ser a vítima dos colegas. Uma vítima passiva, porque pede a Nora que não diga a ninguém, nem ao pai. A situação crescentemente humilhante de Abel vai levar a que Nora, cada vez mais angustiada e dividida, perca as amigas, se zangue com o irmão e deixe de ser boa aluna. Em “Recreio”, a belga Laura Wandel filma este opressivo drama juvenil com a câmara sempre à altura dos olhos das crianças, dando-nos o seu ponto de vista do mundo. O filme não é só uma história de “bullying”, sobre a crueldade e a violência de que as crianças são capazes. É também sobre as relações de poder e lealdade, e os rituais de agregação, humilhação e exclusão na escola, que a podem tornar num inferno para os mais pequenos, mais fracos, mais passivos ou mais inconformados. Os miúdos são exemplares de naturalidade, com destaque para Maya Vanderbeque no papel de Nora. Pode ler a crítica de “Recreio” aqui.

“Campo de Sangue”

João Mário Grilo foi inspirar-se no romance homónimo de Dulce Maria Cardoso, no qual a personagem principal se manifesta à escritora e intromete na história, para rodar um filme confusamente “meta”. Carloto Cotta é o protagonista, um homem sem nome, preso por matar uma rapariga, e que está rodeado de cinco mulheres , da mãe à própria autora, Dulce (Luísa Cruz). O realizador pretende jogar com a “realidade” da narrativa e a ficção, e com o estatuto da personagem principal, que pode ser ou não apenas uma construção da escritora, ou de cada uma das outras mulheres, embora não consiga mostrar organização e legibilidade na exposição de toda esta ambiguidade e complexidade. As personagens vagas, o tom seco e distanciado e as interpretações, quase todas hirtas ou mortiças, também não ajudam a que suspendamos a nossa descrença e nos envolvamos emocional ou intelectualmente com o filme, ou sintamos a “vertigem” pretendida. Também com Teresa Madruga, Suzana Borges, Sara Carinhas e Fernanda Neves.

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“Elvis”

Apresentado em antestreia recentemente no Festival de Cannes, esta novo filme biográfico sobre Elvis Presley, assinado pelo australiano Baz Luhrmann (“Moulin Rouge”, “O Grande Gatsby”),  tem Tom Hanks no papel do coronel Tom Parker, o empresário do cantor, e o pouco conhecido Austin Butler (que bateu candidatos como Harry Styles ou Ansel Elgort) dando corpo a Elvis. Luhrmann, que é também um dos quatro autores do argumento, apresenta a sua versão da lenda do rock e recria a sua vida, desde a infância até à consagração. A complexa relação entre Elvis Presley e Parker está particularmente em foco na fita, em cujo elenco também encontramos Kodi Smith-McPhee, Olivia de Jonge, Richard Roxburgh e David Wenham. Pode ler a crítica de “Elvis” aqui.