O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse à Lusa que a Rússia não deve ser excluída da Conferência dos Oceanos, uma vez que os países que “contribuem para os problemas têm de contribuir para as soluções”.

Questionado sobre o incómodo manifestado por alguns países com a presença russa em reuniões internacionais desde o início da guerra na Ucrânia em finais de fevereiro, Guterres avaliou que o intuito do evento dedicado aos Oceanos, que Lisboa acolhe na próxima semana, é “fazer com que todos os países mudem os seus comportamentos”, frisando que a Rússia tem um “contributo importante para a poluição” e para as “alterações climáticas”.

“A Rússia é um país que tem um contributo importante para a poluição dos oceanos e tem um contributo importante para as alterações climáticas. Acho que aqueles que contribuem para os problemas têm de contribuir para as soluções e, por isso, acho que não faz sentido exclui-los daquelas reuniões em que precisamente se procura fazer com que todos os países mudem os seus comportamentos”, afirmou o secretário-geral, em entrevista à Lusa, na sede da ONU, em Nova Iorque.

Ruslan Edelgeriyev, conselheiro do Presidente russo, Vladimir Putin, vai encabeçar a delegação russa na Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, que decorrerá em Lisboa entre 27 de junho e 1 de julho, disse à Lusa fonte oficial da Embaixada da Rússia.

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Conselheiro de Putin vem a Lisboa, à conferência dos Oceanos

O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, disse esta semana que está já confirmada a presença de pelo menos 18 chefes de Estado e de Governo, e que a Rússia estará representada.

“A Rússia é membro da ONU e participa na conferência”, disse o chefe da diplomacia portuguesa, explicando que Portugal, como anfitrião, assume as regras das Nações Unidas.

Para António Guterres, para quem as questões ambientais são manifestamente uma prioridade, os side events (eventos paralelos) que se realizarão na conferência em Lisboa serão fundamentais para decidir o futuro dos Oceanos, acrescentando que o sucesso da mesma não será medido pelas declarações que nela forem feitas, mas sim pela “capacidade de mobilizar governos, o setor privado, a sociedade civil e cientistas”.

“Esta conferência é sobre ciência e inovação, em larga medida, e eu diria que mais importante do que a Conferência em si são o conjunto de atividades que aqui nas Nações Unidas são chamados side events. O conjunto de eventos em que um grande número de atores, que são fundamentais para o futuro dos Oceanos, decidiu participar e decidiu apresentar um conjunto de compromissos e de propostas que podem ter um efeito acelerador muito importante”, disse o ex-primeiro-ministro português.

Como digo, estas conferências normalmente têm declarações que não resolvem os problemas essenciais, mas permitem uma mobilização da comunidade internacional. (…) Por isso, esta Conferência, vista na perspetiva de todo um conjunto de atividades, espero que seja verdadeiramente um toque de acelerador muito forte e bem precisamos desse toque de acelerador, porque a situação dos Oceanos é uma situação extremamente preocupante”, sublinhou.