O velório do ativista brasileiro Bruno Pereira, que foi morto aos 41 anos durante uma expedição à Amazónia com o jornalista britânico Dom Phillips, foi marcado esta sexta-feira por uma emotiva homenagem dos povos indígenas.
Em redor do caixão, cerca de 20 indígenas Xucuru cantaram hinos como parte de um ritual fúnebre, no cemitério Morada da Paz em Paulista, perto de Recife (nordeste), de onde Bruno era originário, segundo a France-Presse (AFP), presente no local.
Vestidos com tangas e toucas tradicionais feitas de palha ou penas, cantavam enquanto tocavam instrumentos de percussão que se assemelham a maracás.
Uma foto de Bruno Pereira foi colocada no caixão, coberta com uma bandeira do Sport Recife, o seu clube de futebol preferido.
O corpo, que foi entregue à sua família na quinta-feira à noite na Brasília, onde teve lugar a perícia para a identificação formal, será cremado esta sexta-feira à tarde.
“A terra onde ele nasceu dá-lhe as boas-vindas. O seu corpo voltou à argila, às raízes das plantas, à água e ao calor do solo”, disse o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados numa declaração.
“Este crime é a ponta do iceberg da situação crítica no Brasil atualmente, causada pela forma como o Estado lida com as questões indígenas”, disse à AFP Vania Fialho, uma antropóloga, de 56 anos, que assistiu ao velório.
Bruno Pereira, casado e com três filhos, trabalhou durante muito tempo na Funai, a agência estatal responsável pelos assuntos indígenas, onde chefiou um departamento especializado na proteção de povos isolados com pouco ou nenhum contacto com o mundo exterior.
Foi morto em 5 de junho quando regressava de uma expedição com Dom Phillips no Vale do Javari, uma área notoriamente perigosa perto da fronteira entre o Brasil, Peru e Colômbia, onde os traficantes de droga, mineiros de ouro e caçadores furtivos envolvidos na pesca ilegal são abundantes.
Dois corpos encontrados no Amazonas nas buscas de Dom Phillips e Bruno Pereira
O funeral do jornalista britânico terá lugar no domingo em Niterói, perto do Rio de Janeiro.
Quatro suspeitos foram detidos até agora.