“Neste momento, não há nenhuma indicação de que seja possível haver negociações de paz entre as duas partes.” António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), não escondeu as suas baixas expectativas sobre o fim da invasão russa na Ucrânia num curto prazo.

Numa entrevista à RTP1, António Guterres mostrou-se mais “otimista” no que diz respeito à realização da reunião a quatro partes (ONU, Rússia, Turquia e Ucrânia) em Istambul com o objetivo de discutir a questão do bloqueio russo à exportação de cereais desde território ucraniano e também o facto de estarem retidos na Rússia bens alimentares e fertilizantes.

O plano da ONU para resolver a questão alimentar está a ser estudado pela Rússia e pela Ucrânia, revelou António Guterres, acrescentando que é uma “negociação complexa”. No entanto, o alto responsável diplomático considera a estratégia é “razoável e aceitável” para todas as partes.

Sobre este último ponto, António Guterres indicou que a Rússia não consegue exportar alimentos por causa dos “efeitos indiretos” das sanções ocidentais em áreas como a da navegação marítima, a dos seguros e a dos pagamentos bancários. E apontou para o problema da exportação de adubos e fertilizantes, destacando que a Rússia e a Bielorrússia são dos principais produtores mundiais daquelas substâncias.

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“Este ano, não há um problema no acesso a alimentos, chegam para o mundo”, disse António Guterres, que advertiu que, em 2023, o cenário em diferente: “Corremos o risco de pura e simplesmente não haver alimentos para a população mundial”.

Guerra tem “desviado atenções” de alterações climáticas

Na mesma entrevista, o secretário-geral da ONU sublinhou que a guerra na Ucrânia “tem desviado as atenções das questões climáticas”. O tema não “abre noticiários” nem é uma “preocupação imediata dos governos”. Além disso, António Guterres denunciou que há quem esteja a “tentar aproveitar a situação para voltar a investir nos combustíveis fósseis”. “É um suicídio”, caracterizou.

António Guterres disse que — se se tivesse apostado nas “energias renováveis” há uma década — o mundo não estaria a sofrer tanto com a subida do preço dos combustíveis.

Sobre a conferência dos oceanos que se vai realizar esta semana em Lisboa, o secretário-geral da ONU deixou claro de que não se chegará a “um novo acordo de Paris”, mas o evento tem um “papel essencial”, que passa por “tocar a rebate” e indicar os caminhos que devem ser seguidos.

“Estamos a perder a nossa batalha da proteção dos oceanos”, declarou, elencando que “o plástico presente nos oceanos continua a aumentar, a sobrepesca verifica-se e a poluição costeira cria zonas desprovidas de vida”. Sinalizou também que os efeitos também das alterações climáticas “põem em causa a biodiversidade dos oceanos”.

Apesar de admitir alguns “avanços positivos”, António Guterres assinalou que a “situação global” no que concerne às alterações climáticas “agravou-se“. “Continuamos a perder a guerra das alterações climáticas”, afirmou, referindo o planeta está “muito perto de situações irreversíveis” e de sofrer “alterações devastadoras”.