A Colômbia, o único país da América Latina, com estatuto de “parceiro global” da NATO deve servir de exemplo a outros Estados, disse esta segunda-feira à Lusa o presidente colombiano, defensor da cooperação com a Aliança Atlântica.

A Colômbia, como único país da América Latina com estatuto de “parceiro global” da NATO, vai participar, a nível diplomático, na cimeira da organização que se realiza esta semana em Madrid.

Mundialmente, o Japão, a Austrália, a Coreia do Sul e a Nova Zelândia também têm o mesmo estatuto no âmbito da NATO, tal como a Colômbia.

“Eu creio que é positiva a expansão dos Estados [considerados] associados, como também considero positivo que outros países europeus possam aderir à NATO. Isto ajuda a fortalecer o multilateralismo em campos como o da segurança”, disse à Lusa Iván Duque.

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Neste contexto, o chefe de Estado da Colômbia – que participa na II Conferência dos Oceanos, em Lisboa – disse ainda que “gostaria de ver mais países da América Latina” a fazer o mesmo que a Colômbia na área da segurança e defesa.

“Ou seja, incorporarem-se (na NATO) para receberem melhores práticas e ao mesmo tempo para contribuir com experiência”, disse Duque frisando que apesar de a Colômbia não ser membro de pleno direito da Aliança Atlântica “contempla princípios e objetivos comuns”.

O acordo de cooperação da Colômbia com a NATO foi possível após o acordo de paz com as FARC (grupo guerrilheiro), em novembro de 2016 e que pôs fim a um conflito com mais de meio século na Colômbia permitindo a Bogotá estabelecer mudanças nas prioridades de defesa.

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Em termos práticos o estatuto de “parceiro global” da NATO permite ao governo colombiano estreitar a cooperação existente com a Aliança Atlântica em assuntos como a luta contra o crime internacional, adoção de políticas de mais transparência nas aquisições de equipamento militar, padronização das Forças Armadas em algumas áreas, como a desminagem.

Na área da defesa e segurança a nível mundial, a Colômbia está empenhada na ajuda direta às autoridades da Ucrânia, sobretudo nas áreas em que tem experiência.

“Estamos empenhados em dois tipos de apoio: na gestão migratória em pontos fronteiriços através da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico e do ACNUR e estamos a dar assistência técnica em desminagem porque na Ucrânia foram ‘semeadas’ minas antipessoais. Nós temos uma grande experiência e estamos a transmitir (formação) em território polaco a membros das autoridades ucranianas”, disse Iván Duque.

“O que aconteceu na Ucrânia não foi uma invasão, não é uma guerra e não é uma agressão é um ‘genocídio’. O que há na Ucrânia é um ‘genocídio’ e nós levantamos a nossa voz para condenarmos estes atos de atrocidade contra a Humanidade”, acusou Duque, cujo mandato como chefe de Estado termina no dia 7 de agosto.

Por outro lado, a Colômbia vive mudanças políticas – com a vitória nas últimas eleições presidenciais – do esquerdista Gustavo Petro, antigo membro do grupo de guerrilha M-19 que se transformou em partido político nos anos 1990.

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Apesar de Petro ter demonstrado no passado discordância em relação ao estatuto da Colômbia na NATO enquadradas nas relações com Washington, o assunto não foi abordado durante a última campanha presidencial.

Para Iván Duque, as relações que a Colômbia “tem tido” com os Estados Unidos basearam-se em princípios, ideais e objetivos comuns.

“Estamos a assinalar os 200 anos de relações entre a Colômbia e os Estados Unido e somos membros como ‘Estado estratégico não-membro da Aliança Atlântica’, o ponto mais alto que um país pode ter na relação bilateral”, recordou Duque referindo-se ao futuro das relações com Washington que disse devem ser preservadas no futuro.

“Os aliados têm de partilhar princípios, objetivos e têm de os apoiar. Creio que as políticas que temos mantido são políticas de Estado e parece-me que qualquer mudança abrupta pode provocar, obviamente, observações, reflexões e possivelmente tensões”, disse.