A ausência de integração orçamental da zona euro leva a heterogeneidade no risco de crédito dos países, disse esta segunda-feira a economista Hélène Rey, na abertura do Fórum Banco Central Europeu (BCE).

A posição de Hélène Rey, professora da London Business School, foi transmitida esta segunda-feira durante um debate com o economista Richard Portes, da mesma universidade, e moderado por Isabel Schnabel, membro do conselho executivo do BCE, no jantar que marcou o início da conferência, em Sintra.

“Somos uma união monetária, mas não estamos integrados orçamentalmente e, portanto, temos heterogeneidade no risco de crédito. E é normal que essa heterogeneidade seja precificada”, disse a economista.

Questionado por Isabel Schanabel sobre os riscos para a estabilidade financeira, Richard Portes, professor da London Business School e fundador do Center for Economic Policy Research, recordou uma citação de Harold MacMillan, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, que quando questionado sobre qual o desafio mais importante no seu cargo, respondeu: “acontecimentos, meu caro, acontecimentos”.

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“É exatamente isso o que aconteceu”, afirmou, para elencar uma série de acontecimentos como a pandemia, a guerra na Ucrânia, o mercados de “commodities”, problemas nas cadeias de abastecimentos, eleições, entre outros.

Para o economista, “nenhum deles foi conducente à estabilidade financeira”, pelo que acredita existe uma alteração “para o ambiente de risco, com os mercados de ações e títulos em queda acentuada”.

“Mas também penso, e estava relativamente cético quanto a isso quando foi levantada pela primeira vez, há vários anos, a ideia de fatores estruturais profundos no sistema financeiro reduziram a liquidez e, portanto, criaram mais volatilidade”, disse, acrescentando que existem “evidências informais suficientes dos mercados de que isso foi importante”.

O BCE voltou a realizar em Sintra, no distrito de Lisboa, o seu fórum anual, este ano dedicado aos desafios para a política monetária num mundo em rápida mudança.

Após dois anos realizado por meios telemáticos devido à pandemia, a cimeira de três dias regressa a Sintra de forma presencial, conforme anos anteriores.

O tema deste ano foi alterado para refletir os recentes desenvolvimentos globais e a cimeira irá debater os desafios que a economia da área do euro enfrenta atualmente.

Governadores de bancos centrais, académicos, economistas e representantes dos mercados financeiros irão analisar as implicações destes fatores na economia da zona euro no contexto global, incluindo tendências que parecem ter sido reforçadas pela pandemia, e como podem afetar a política monetária no futuro.

Na terça-feira, o fórum arranca com um discurso da presidente do BCE, Christine Lagarde, estando previstas para essa manhã uma sessão sobre globalização e mercado de trabalho, moderada pelo economista-chefe da instituição, Philip Lane, e por uma outra sobre a volatilidade dos preços da energia e um painel sobre o projeto do euro digital.

Já na quarta-feira, o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, irá moderar um debate sobre a política monetária e o “boom” do imobiliário, bem como uma sessão sobre as cadeias de valor globais, os constrangimentos no abastecimento e o comércio internacional.

Haverá ainda um painel sobre as expectativas de inflação na formulação de política monetária, moderada por Isabel Schnabel, membro do conselho executivo do BCE.

No mesmo dia pela tarde o ponto alto será o painel no qual irão participar além de Lagarde, o presidente da Reserva Federal norte-americana, Jerome Powell, o governador do Banco de Inglaterra, Andrew Bailey, e o diretor-geral do Banco de Pagamentos Internacionais, Agustín Carstens.