No último dia como diretor artístico do Teatro Municipal do Porto (TMP), Tiago Guedes lançou uma nova programação, entre setembro de 2022 e julho de 2023, antes de abraçar o próximo desafio profissional, em Lyon.
Na rentrée, o destaque maior vai para um projeto que marca a Temporada Cruzada Portugal — França 2022, onde a companhia de dança sul africana com base em França, Via Katlehong, convida dois coreógrafos, o português Marco da Silva Ferreira e o senegalês Amala Dianor, para fazerem duas peças. “Ambos estão a terminar uma residência artística aqui no Teatro Campo Alegre, estreiam depois no prestigiado Festival de Avignon, em setembro passarão pelo Porto e depois começam uma turné mundial”, explica Tiago Guedes, acrescentando que a música “estará muito mais presente” nesta temporada, sublinhando o novo projeto de Joana Gama e Luís Fernandes. Ainda em setembro, arranca o programa de coproduções com artistas da cidade do Porto com a estreia de “Beetje bij beetje”, do artista multidisciplinar António Lago, no Teatro Campo Alegre, um espetáculo que pretende “devolver um retrato das nossas sociedades e problematizar o lugar do corpo nas interações que tecem a teia das várias relações: o poder, as forças instituintes, o coletivo, o privado, a elaboração das subjetividades”.
Em outubro, com a missão de promover a inclusão social e cultural através da dança inclusiva, o projeto Dançando com a Diferença, oriundo do Funchal, apresenta “Blasons” de François Chaignaud e “Doesdicon”, da autoria de Tânia Carvalho. No mesmo mês, o bailarino Marco Silva Ferreira estreia “C A R C A Ç A”, uma coapresentação com o Centro Cultural de Belém que conta com um elenco de dez intérpretes que “usam a dança como ferramenta para pesquisar sobre comunidade, construção de identidade coletiva, memória e cristalização cultural”.
“Sun & Sea” é um dos pontos altos da temporada do TMP para ver em novembro, esta instalação ganhou o Leão de Ouro na Bienal de Veneza em 2019 e mistura as artes performativas e as artes visuais no mesmo espaço. O espetáculo irá transformar o palco do grande auditório do Rivoli numa autêntica praia, com direito a areia, onde acontecerão várias situações do dia a dia e o público poderá observá-las nas varandas técnicas do teatro, numa perspetiva superior e imprópria para quem tem vertigens. Ainda novembro, o Teatro Experimental do Porto, que comemora 70 anos de vida, estreia “Rosas de Maio”, encenada Luísa Sequeira, e outro projeto musical, desta vez com o Quarteto Contratempus, uma companhia de ópera contemporânea portuense.
Em dezembro chegam os (La) Horde/Ballet National de Marseille, uma companhia que se tem vindo a reinventar convidando vários coreógrafos contemporâneos para trabalhar além das barreiras da dança clássica, e que no Porto apresenta uma proposta com quatro coreógrafas de diferentes gerações que mostram quatro espetáculos diferentes e com identidades muito próprias. O fim do ano também se faz com um novo projeto do serviço educativo, onde Raquel André apresenta “Coleção de Espectadores”, uma peça feita com 15 espectadores reais que mergulham na experiência de assistirem a espetáculos no TMP nos últimos oito anos.
O ano de 2023 começa com a Companhia Nacional de Bailado e uma nova criação assinada por Olga Roriz, que regressa ao Porto com “Deste Mundo e do Outro”, já a versão cénica do filme de Pedro Almodóver, “Tudo Sobre Minha Mãe”, encenada por Daniel Gorjão, estreia-se no Porto e segue depois para o Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa. Janeiro é também o mês do 91.º aniversário do Rivoli que este ano se associa a outro aniversário, os 35 anos do Teatro de Marionetas do Porto, com o espetáculo “Carrossel”, onde será celebrado o enorme legado de João Paulo Seara Cardoso, fundador da histórica companhia.
Fevereiro marca o regresso ao Porto de dois encenadores franceses, Philippe Quesne e Joris Lacoste, quatro anos depois, numa vénia ao teatro mais físico, onde a estreia da nova criação da portuense Né Barros também irá integrar o rol de sugestões. Segue-se o mais recentemente trabalho da companhia da cidade Palmilha Dentada e uma nova parceria entre o TMP e o Centro Cultural de Belém. “Pendular” é o nome de um projeto anual de intercâmbio entre as duas instituições culturais que promete levar jovens artistas a mostrarem o que valem tanto no Porto como em Lisboa.
A provar que todos os estilos de música cabem mesmo na nova temporada do TMP está o contratenor polaco JakubJósefOrlinsky, que em março sobe ao palco do Rivoli, em estreia nacional, acompanhado pela Orquestra Pomo d’Oro para interpretar “Facce D’Amore”. De 18 a 30 de abril acontece a 7.ª edição do Festival DDD — Dias da Dança, segue os mesmos moldes ocupando palcos no Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos, desenvolvendo-se depois em pontos em Viana do Castelo, Coimbra, Faro, Loulé, Mértola e Leiria. “A ideia é termos cidades parceiras para montarmos turnés para artistas nacionais e internacionais”, destaca o diretor artístico Tiago Guedes, recordando que a abertura do festival dedicado à dança contemporânea será um espetáculo da brasileira Lia Rodrigues, uma peça sobre “as pequenas coisas do mundo que nos podem ainda continuar a encantar”.
Rui Moreira anuncia modelo de codireção para o TMP e lança concurso público internacional
Tiago Guedes está à frente do TMP desde 2014, mas a partir deste mês sucede a Dominique Hervieu como diretor de La Maison de la Danse de Lyon e como codiretor da Biennale de La Danse. Em maio passado, Rui Moreira, presidente da câmara municipal do Porto e responsável pelo pelouro da cultura, dizia não haver “uma vertigem” para nomear nova direção, mas esta terça-feira o autarca aproveitou a conferência de imprensa para anunciar um novo modelo de direção para o Departamento de Artes Performativas da Ágora que ocupa, por inerência, a direção do TMP, do festival Dias Da Dança (DDD) e do Campus Paulo Cunha e Silva.
“Vamos implementar modelo de codireção, por um lado vamos apostar numa pessoa da casa, a Cristina Planas Leitão [coreógrafa, intérprete e professora], que atualmente é programadora de artes performativas do TMP e do festival DDD, mas ao mesmo tempo vamos abrir um concurso para nomear um codiretor. Não é um caso invulgar, há outros teatros que funcionam neste modelo”, afirmou Rui Moreira, recordando que nas últimas semanas se aconselhou com Tiago Guedes e o seu executivo municipal para chegar a esta solução.
O autarca avançou que de “dentro de poucos dias” será anunciado o júri internacional, constituído por cinco elementos, e que o concurso público irá abrir em julho. Em setembro será revelada uma short list e em outubro iniciará a fase de entrevistas, onde Moreira faz questão de marcar presença. “O início de funções será, o mais tardar, a 1 de janeiro de 2023”, garantiu o o presidente da câmara.
“Espero que isto interesse a muita gente, hoje o TMP é um projeto muito atrativo. Acho que, nesta matéria, é bom ter a possibilidade de convidar alguém que possa ser da cidade ou de fora, mas que haja um júri internacional para avaliar candidaturas”, disse Rui Moreira, recordando que uma “solução de rutura” com as atuais equipas seria “incompreensível”, enaltecendo a “clara vontade política” de continuar um projeto de cultura para a cidade imaginado em 2013 até ao final do seu atual mandato, que terminará em 2025.