Os pequenos países insulares em desenvolvimento são particularmente afetados pelas alterações climáticas e por outros choques, mas têm potencial para ser grandes economias, aproveitando a sua zona oceânica, disseram esta terça-feira, em Lisboa, intervenientes num painel da Conferência dos Oceanos.

“Os pequenos países insulares em desenvolvimento são apenas pequenos em terra, mas têm potencial para ser grandes economias do oceano”, disse a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala.

A responsável falava num diálogo sobre a promoção de economias sustentáveis baseadas no oceano, em particular para pequenos Estados insulares em desenvolvimento (SIDS, na sigla em inglês) e em países menos desenvolvidos, presidida pelo ministro do Mar de Cabo Verde, Abraão Vicente, e pelo ministro do Ambiente da Noruega, no âmbito da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, a decorrer em Lisboa.

Para que isso seja possível, Ngozi disse que é preciso uma estratégia abrangente que melhore a produtividade e a sustentabilidade das atividades oceânicas tradicionais, como o turismo, as pescas e as atividades portuárias e desenvolver indústrias emergentes como a aquacultura, os serviços marítimos, a construção naval, a biotecnologia marítima ou a exploração da energia.

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Sublinhando que o comércio faz parte da solução para desbloquear o potencial da economia dos oceanos, ou economia azul, a responsável da OMC estimou que esta possa ter um valor anual de 2,5 biliões de dólares.

“Isto faria da economia azul a sétima maior economia do mundo. Pensem nisso”, afirmou, lembrando que os oceanos contribuem para a alimentação, segurança, emprego, comércio e prosperidade de três mil milhões de pessoas que, direta ou indiretamente, dependem dos oceanos.

Na mesma discussão, Mari Pangestu, diretora de políticas de desenvolvimento do Banco Mundial, acrescentou que se admite que a economia oceânica possa mesmo duplicar, para 3 biliões de dólares, até 2030 e que o turismo oceânico possa duplicar entre 2010 e 2030.

“Oitenta por cento dos bens comercializados são transportados por via marítima, uma em cada 10 pessoas no planeta obtém a sua subsistência da pesca e do comércio de peixe e estes números são ainda mais importantes para os SIDS, onde as áreas oceânicas sob sua jurisdição são muito maiores do que sua massa de terra”, afirmou.

Além disso, sublinhou, os oceanos também estão no centro da abordagem da crise climática, já que são o maior sumidouro de carbono.

Ainda assim, os oceanos estão ameaçados pelo aumento das temperaturas, acidificação, aumento do nível do mar e pela sobrepesca, disse Pangestu.

Perante esta dicotomia, o primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama, disse que o seu país é a prova de que “não há opção entre proteger os ecossistemas e desenvolver a economia dos oceanos.

“É uma falsa escolha”, afirmou o governante, que falava também em nome do Fórum das Ilhas do Pacífico, explicando que Fiji está a fazer ambas: proteger os oceanos e promover a economia azul.

Embora o oceano seja “o maior par de pulmões da Terra, é o menos financiado”, disse Bainimarama, um dos vários líderes de SIDS a intervir na conferência.

Dos 174 mil milhões de dólares por ano que se estima serem necessários para manter a saúde dos oceanos, só foram investidos 8 mil milhões provenientes de filantropia e cinco mil milhões em ajuda oficial ao desenvolvimento, afirmou, lamentando ainda que quase não haja mercado para “os maiores serviços dos oceanos”, nomeadamente a sequestração de carbono e a proteção costeira, cujo valor poderia ser de mais de 33 biliões de dólares.

“Se não investirmos em suster a vida nos oceanos, não haverá mais nada nos oceanos para proteger”, afirmou ainda, lançando um apelo a todos os parceiros para investirem nos oceanos.