A oposição não poupou críticas após o primeiro-ministro ter decidido manter o ministro das Infraestruturas em funções na sequência da polémica do aeroporto do Montijo. António Costa argumentou que Pedro Nuno Santos “não agiu de má fé” e que “teve humildade”, sendo que a questão está “ultrapassada”.

Rui Rio, o ainda presidente do PSD, sublinha que o Governo fica “numa situação caricata” e que o facto de António Costa não ter demitido Pedro Nuno denota “falta de coragem do primeiro-ministro para demitir o ministro”. “Um vem pedir desculpa e outro fica todo contente e a coisa resolveu-se rapidamente”, aponta o líder do PSD.

“Sentir-me-ia incomodado por ter um governo em funções há tão pouco tempo que está já neste estado entre o primeiro-ministro e o ministro”, atira Rui Rio, que realça que o Governo “tem de funcionar e ser eficaz”. “A instabilidade está dentro do próprio Governo que não se consegue orientar”, destaca o líder da oposição que será substituído por Luís Montenegro no próximo domingo.

André Ventura, do Chega, considera que o caso de Pedro Nuno Santos é um “circo inacreditável” em Portugal e que, depois da não existência de uma demissão, Marcelo Rebelo de Sousa deveria “apontar o caminho de saída” ao ministro das Infraestruturas.

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“Depois de um ministro desrespeitar o Governo e o seu primeiro-ministro, ouvirmos o próprio ministro dizer que foi uma falha da comunicação; e ouvirmos inacreditavelmente o primeiro-ministro dizer que foi um erro e que seguimos adiante é algo que nem no Bangladesh nem nos Camarões acontecia”, salienta o líder do Chega.

André Ventura assinala que se esperava de António Costa “decisão, autonomia e capacidade” e que o primeiro-ministro “mostrou que não tem nenhum”. Mais do que a decisão em si, André Ventura demonstrou estar preocupado com o futuro: “Pedro Nuno Santos já não existe politicamente e gere dossiês fundamentais. Não podemos ter um ministro sem nenhum capital político à frente de um ministério como este”.

Do lado da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo descreve o sucedido como uma “novela mexicana”. “Temos um ministro que foi desautorizado publicamente de uma forma humilhante e não se demite e um primeiro-ministro que reconhece que tem um ministro que cometeu um erro grave e também não o demite”, realça o líder da IL.

João Cotrim Figueiredo considera que, depois disto, “fica um Governo fragilizado numa pasta com coisas tão importantes como a ferrovia, a TAP e os aeroportos”, deixando no ar que “fica a sensação de que não sabemos a história toda”.

Por sua vez, Paula Santos, líder parlamentar do PCP, afirma que “todos estes desenvolvimentos revelam intenção do PS, em articulação com o PSD, de servir os interesses da VINCI e de negar aos portugueses o direito de ter uma infraestrutura aeroportuária que permita o nosso desenvolvimento e responda aos interesses nacionais”.

Os comunistas questionaram por que motivo é que o Governo insiste na solução do Montijo, considerando que “se mantém submisso aos interesses da ANA” e que “não decide por uma solução que defenda os interesses nacionais”. O PCP insiste, assim, na solução de construção faseada de um aeroporto no campo de tiro de Alcochete, notando que “é relevante não se continuar a adiar a concretização de uma solução fundamental para o país”.

Já Nuno Melo, líder do CDS, defende que “um despacho com força jurídica, publicado no Diário da República, não é um erro de comunicação. Mantendo o ministro, o primeiro-ministro desautorizado revelou todo o medo que tem da força de Pedro Nuno Santos junto do aparelho do PS. O partido prevaleceu sobre o país. O que hoje aconteceu, não é possível num regime democrático digno desse nome”.

Nuno Melo acusa António Costa de “sem autoridade revogar o despacho do ministro” e destruir “a sua credibilidade e a do ministro em direto, perante um país inteiro”.

“O primeiro-ministro perdeu toda a sua autoridade para continuar a exercer as suas funções. A manutenção de Pedro Nuno Santos no Governo significa que o primeiro-ministro não tem hoje autoridade nem força para demitir um ministro que o desautorizou publicamente”, considera o líder dos democratas-cristãos que diz que o governo passa a ter “dois primeiro-ministros em contradição”.