O primeiro-ministro de Cabo Verde afirmou esta quinta-feira, em Coimbra, que a guerra na Ucrânia tem um efeito “muito mais gravoso” no país do que o impacto económico e social provocado pela pandemia.

“O turismo estava a retomar — temos uma ocupação de 95% dos hotéis em época baixa –, os empregos foram retomados […], e, de repente, somos apanhados com esta guerra na Ucrânia. Estava tudo animado com a recuperação acelerada e este efeito é muito mais gravoso do que o impacto económico e social provocado pela pandemia”, disse Ulisses Correia e Silva, que proferia uma conferência na Universidade de Coimbra subordinada à gestão da Covid-19 e dos efeitos da guerra naquele país insular.

Segundo o primeiro-ministro cabo-verdiano, os efeitos da guerra sentem-se “pela vinda da inflação, pelo aumento dos preços dos combustíveis, eletricidade e produtos alimentares“.

“As pessoas só não sentem porque o governo absorve [os efeitos]. Estabilizámos os preços porque, com o problema de rendimento das pessoas que vinha de trás — da seca e da pandemia –, dar-lhes mais uma pancada com a transmissão da inflação seria um desastre”, vincou.

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Nesse sentido, explicou, o governo optou por suspender o sistema de regulação de preços e estabeleceu limites, com o diferencial a ser assumido pelo Estado.

“Entre estabilização de combustíveis, produtos alimentares, medidas de proteção social e preços da energia, de março até dezembro, serão 80 milhões de euros [gastos pelo governo]. Numa economia como a cabo-verdiana, custa”, referiu Ulisses Correia e Silva, realçando que estes gastos “não deixam nada, não vão criar nada em termos substanciais para o país”.

O governante alertou ainda para a “incerteza do que vai acontecer de dezembro para a frente”, frisando o “esforço brutal” do governo para suster os impactos.

“Nós tínhamos, em Cabo Verde, 2% de pessoas em situação de insegurança alimentar grave e passou para 9% e a projeção é que, se não houver medidas, pode passar para 11%. Da situação grave para a fome é um passo”, constatou.

“A guerra está tão longe e os impactos tão perto”, asseverou.

Na cerimónia, o reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, elogiou o primeiro-ministro de Cabo Verde assim como o seu executivo.

“Temos um lobby forte no governo de Cabo Verde [há vários ministros formados na Universidade de Coimbra], mais forte do que no Governo de Portugal”, gracejou.

Durante a sua intervenção, Amílcar Falcão demonstrou “total disponibilidade” para a Universidade de Coimbra aprofundar a sua relação com Cabo Verde, apontando para a cooperação que já existe em áreas como o direito ou a medicina.