Quis o destino que, na segunda ronda de Wimbledon, se encontrassem duas tenistas ucranianas. Lesia Tsurenko e Anhelina Kalinina defrontaram-se no court 12 do All England Club, onde surgiram bandeiras da Ucrânia nas bancadas, e o resultado foi o menos importante de uma partida que juntou duas representantes dos milhões de ucranianos que estão há meses afastados de casa devido à guerra.

Ainda assim, houve um resultado. Tsurenko venceu Kalinina em três sets e apurou-se para a terceira ronda de Wimbledon — algo que, atualmente, nem sequer tem o mesmo significado. “O que está a passar na Ucrânia é simplesmente horrível. Sinto-me terrível. Sinto-me muito culpada. Parece que não há nada que possa fazer”, disse a tenista de 33 anos depois da partida em que usou uma fita azul e amarela, as cores da bandeira da Ucrânia, junto ao peito. Uma demonstração de apoio que só é possível porque a organização do Grand Slam britânico abriu uma exceção à rigorosa regra que prevê que todos os atletas têm de usar equipamentos totalmente brancos.

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Na conferência de imprensa, Lesia Tsurenko abordou principalmente o recente bombardeamento de um centro comercial em Kremenchuk. “O meu preparador físico é dessa cidade. A sogra dele trabalha naquele centro comercial… Estava de folga. Ele e o pai não estavam longe do local, ele ainda foi atingido na cabeça”, contou a tenista, que não deixou de sublinhar que tem recebido um “fantástico apoio” desde que chegou a Londres. “Hoje, no caminho do hotel para o torneio, tivemos um motorista que acolheu dois ucranianos em casa. É fantástica a forma como as pessoas estão a ajudar tanto os ucranianos”, acrescentou a atleta, que já garantiu que vai doar 10% do prize money de Wimbledon às organizações que apoiam todos os afetados pelo conflito.

Tsurenko vai continuar a jogar. Mas Kalinina, eliminada do torneio de singulares, também. A tenista ucraniana, que no início da semana disse que ia usar o prize money para reconstruir a casa da família que ficou destruída num bombardeamento, vai ficar em Londres e participar no torneio de pares. Afinal, não tem para onde ir: não vai a casa desde a semana anterior ao início da invasão russa, no final de fevereiro, e tem saltado de competição em competição com a mala às costas. “Rezamos pela paz mas nem sequer podemos imaginar quando é que poderemos ir para casa. Ando como todos, a saltar de torneio em torneio”, desabafou a atleta de 25 anos.

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