O risco de falta de gás e racionamento de consumo que ameaça a Europa central e, em particular a indústria alemã em consequência dos cortes de abastecimento da Rússia, não se vai colocar em Portugal nem na Península Ibérica, defendeu o presidente executivo da EDP.

Miguel Stilwell de Andrade explica que a Península Ibérica tem instalações de gás natural liquefeito suficientes para receber gás de outras fontes. Já a EDP, enquanto cliente de gás (para as centrais térmicas, tem o fornecimento assegurado por dois contratos de longo prazo com os Estados Unidos e Trinidad e Tobago.

Há “obviamente um tema do preço do gás que está muito elevado”, mas que é um problema diferente do do centro da Europa onde a escassez é o tema. Sobre o impacto do limite ao preço do gás que está em vigor no mercado ibérico de eletricidade desde meados de junho, o presidente executivo da elétrica considera que está a fazer aquilo que foi desenhado para fazer, ainda que subsistam sempre distorções de mercado, referindo o aumento das exportações elétricas (mais baratas) para França.

As declarações foram feitas aos jornalistas esta sexta-feira, a margem de um evento paralelo à Cimeira do Oceanos das Nações Unidas. Durante a sessão que abordou o desenvolvimento sustentável de novos negócios no mar, o presidente executivo da EDP considerou que a Europa vivia “uma grande crise energética” e não é só uma questão de preços muito altos. Há o risco de quebra de fornecimentos de gás no centro e leste da Europa e de a indústria alemã vir a enfrentar o racionamento, o que é um game changer no setor. Lembrando que a Europa tem sido líder no combate às alterações climáticas, considerou que o desafio agora é mais do que atingir emissões zero. Trata-se de ter acesso a energia e mais barata, e por isso é preciso acelerar. E essa aceleração terá de passar pelo mar.

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O gestor assinalou as dificuldades crescentes de instalação e licenciamento de centrais eólica ou solares em terra, para defender que temos de “tirar partido dos oceanos”, mas com projetos e tecnologias que assegurem a sustentabilidade e não se limitem a dar prioridade ao preço que, diz, deixou de ser o principal critério. E referiu um leilão onde a EDP está envolvida para offshore eólico na Holanda onde os critérios da sustentabilidade e inovação pesam 50%, exemplificando com os cuidados na construção e na instalação de pilares no oceano cuja perfuração provoca ruído que perturba os habitats.

O presidente executivo da EDP revelou ainda que a empresa está envolvida num projeto de solar flutuante no mar, uma tecnologia que não será aplicável à costa portuguesa, mas que pode funcionar no mar do sudoeste asiático onde há pouco espaço disponível, muita população e pouco vento.

Numa conferência centrada no casamento entre a economia azul (mar) e a economia verde, a bióloga marinha americana Sylvia Earle deu um testemunho emotivo e com alguns toques de ironia sobre a sua experiência a estudar a vida nos oceanos. “Estamos apenas a começar a conhecer o oceano e quem vive lá. Já vi muita vida marinha no prato, mas poucos têm a oportunidade de a ver, cara a cara”. Segundo a investigadora da National Geographic Society que fez mergulhos a alta profundidade ,”imaginamos que o mar profundo como estando vazio, mas não é verdade, há milhares de criaturas”. Mas “todas essas formas de vida são importantes, precisamos de todas, dos tubarões aos insetos.” E o mar “não é só um sítio onde vivem os peixes, o mar também está vivo”.