A primeira edição da Final Four do Europeu de futsal feminino, em Gondomar, teve um esperado duelo ibérico mas acabou por tornar-se um encontro com pouca história depois do 3-0 nos dez minutos iniciais de Espanha que praticamente sentenciou uma partida que terminaria com 4-0. Agora, três anos a seguir a essa partida de má memória, surgia o reencontro. E João Matos, um dos pilares da Seleção masculina que é campeã mundial e bicampeã europeia, dava o mote para esse duelo. “Este é um novo capítulo e uma nova oportunidade. Não se tem sentimento de vingança e de se querer fazer porque no passado não tivemos sucesso mas é uma questão de quebrar o enguiço como o masculino já o fez”, apontava o jogador.

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“As duas equipas já se conhecem tão bem e fazem tantos jogos entre si que, às vezes, é difícil surpreender em algum momento do jogo. Um erro ou uma distração de uma atleta quando não está focada é suficiente para o adversário aproveitar. Na nossa modalidade, sobretudo a este nível, não se pode oferecer nada ou a Espanha aproveita logo. Há que estar ligados do início ao fim e sempre focados no jogo para que os detalhes não façam a diferença contra nós”, comentara o selecionador Luís Conceição na antevisão.

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“A atitude competitiva é fundamental na nossa modalidade. Ser intenso e competir bem é muito importante, tal como desfrutar de uma final do Campeonato da Europa. Depois, já olhámos um pouco para o jogo e a estratégia, que pode ser decisiva em determinados momentos. O treino de hoje [sábado] foi orientado para aquilo que temos de fazer, de forma a superarmo-nos e sermos mais fortes e felizes no embate de amanhã [domingo]”, acrescentou ainda, desvalorizando a derrota pesada sofrida em 2019.

As meias-finais realizadas na sexta-feira não serviam de barómetro para estabelecer alguma diferença perante aquilo que tinha acontecido na primeira edição da competição, perante as goleadas de Espanha (9-0 com a Ucrânia) e Portugal (6-0 frente à Hungria). No entanto, havia a perceção do peso que a ansiedade tivera na primeira final europeia entre ambos e foi por aí que a Seleção começou por melhorar.

A Espanha até voltou a entrar melhor no jogo, conseguindo condicionar os tempos de posse da Seleção com uma pressão alta que muitas vezes não deixou Portugal sair do seu meio-campo, mas os cinco minutos iniciais tiveram apenas um remate com perigo de Noelia, no seguimento de uma reposição lateral (5′). No entanto, e com o passar do tempo, o conjunto de Luís Conceição baixou os níveis de ansiedade, estabilizou e foi conseguindo criar oportunidades flagrantes por Ana Azevedo: primeiro, depois de uma boa zona de pressão alta, a guarda-redes Sílvia defendeu para canto (8′); a seguir, após um grande passe longo de Pisko, Sílvia voltou a levar a melhor (11′); na terceira foi mesmo de vez, com a capitã nacional a desviar de forma oportuna na área após um passe rasteiro de Fifó descaída sobre a direita numa boa transição rápida (12′).

Portugal tinha não só melhorado e muito em relação aos minutos iniciais da última final como chegava também à vantagem a pouco mais de meio do primeiro tempo, passando a partir a interpretar o encontro de uma outra forma e quase não dando hipóteses às espanholas de visarem a baliza de Ana Catarina, com uma única defesa difícil após um erro numa saída da Seleção que deixou Sanz em situação 1×0 (13′). O intervalo chegaria mesmo com a vantagem da equipa da casa, já depois de Sílvia travar também um remate com muito perigo de Carla Vanessa (16′), mas sem dois golos de avanço: Pisko fez o 2-0 num lance de estratégia que passou pelos pés de Cátia Morgado e Janice numa reposição lateral (19′) mas, a 26 segundos do tempo de descanso, Ale de Paz marcou ainda o 2-1 num grande remate de meia distância (20′).

A Espanha nunca tinha sofrido golos na Final Four do Europeu; agora, em 20 minutos, Portugal já tinha conseguido marcar dois. No entanto, aquele 2-1 antes do intervalo mudava o tipo de abordagem possível para o segundo tempo, que teve Ana Azevedo de novo a fazer mossa na equipa adversária, Janice a ter um remate que não passou longe nos minutos iniciais mas a Espanha a fechar cada vez mais o cerco à baliza de Ana Catarina, com três intervenções seguras nos minutos iniciais a segurar a vantagem mínima nacional. No entanto, a melhor oportunidade acabou mesmo por sair dos pés de Inês Fernandes, a receber de Janice descaída sobre a esquerda para um remate forte que desviou ainda na trave antes de sair (30′).

A formação espanhola não demoraria também a ter a sua bola no ferro, com Mayte a arriscar o remate de meia distância que bateu no poste com Ana Catarina batida (32′). Este era o momento em que a guarda-redes nacional considerada três vezes a melhor do mundo teria de começar a aparecer mais e foi isso que aconteceu no minuto seguinte com duas grandes paradas para canto quando Portugal ia perdendo a capacidade de esticar jogo e colocar em sentido o adversário e o empate acabou mesmo por chegar num grande golo de Ale de Paz, a aproveitar uma segunda bola após corte para rematar de primeira (35′).

O jogo iria para prolongamento apesar de ter sido a Seleção com as melhores oportunidades, sobretudo num remate de Janice no último minuto que saiu muito perto do poste. Aí, a Seleção entrou melhor, teve uma bola na trave de Ana Azevedo isolada numa situação de 2×0 com Janice (42′), Pisko falhou um livre direto pela sexta falta (43′) e foi Sanz que marcou, num canto com falha de marcação (44′). Portugal tinha cinco minutos para evitar a derrota e bastaram 16 segundos do segundo tempo do prolongamento para ter mais uma oportunidade de ouro, com Carla Vanessa a permitir a Sílvia outra defesa a um livre direto (46′) antes de outro livre direto falhado por Pisko após mão de Ana Luján (47′). Luís Conceição iria arriscar o 5×4 com Pisko a conseguir fazer o empate perto do fim (49′), levando a decisão para os penáltis onde a Espanha marcou as quatro tentativas e Portugal falhou duas em três por Ana Azevedo e Ana Pires.