Dois dias antes de matar três pessoas num centro comercial em Copenhaga, na Dinamarca, o homem de 22 anos entretanto capturado pela polícia publicou vários vídeos no YouTube nos quais se filmava a apontar ora uma espingarda ora uma pistola à cabeça e à boca, ao som de uma música “sombria”, como descreve o jornal dinamarquês Ekstra Bladet de problemas psiquiátricos.

O mais recente balanço da polícia, feito na manhã de segunda-feira, dá conta de três mortes — duas pessoas com 17 anos e um homem russo de 47 anos. As autoridades acreditam que o homem agiu sozinho e diz não ter motivos para acreditar que se tratou de um ato de terrorismo. O presumível autor do tiroteio ficou sob custódia psiquiátrica, depois de ter sido presente a um juiz do tribunal da capital dinamarquesa, que o informou das acusações de que é alvo: três homicídios, incluindo de dois adolescentes, e sete tentativas de homicídio.

Em conferência de imprensa esta segunda-feira, o inspetor da polícia Søren Thomassen disse que o homem é “conhecido por ter problemas psiquiátricos“, mas não respondeu aos jornalistas se o jovem procurou ou não ajuda antes do ataque. Logo na noite de domingo, a polícia dinamarquesa tinha avançado que o atirador já era conhecido das autoridades, embora “por nada de especial”.

De “etnia dinamarquesa“, como foi caraterizado, o jovem é membro de um clube de tiro em Amager, na Dinamarca, segundo o Ekstra Bladet, o que pode explicar como é que tinha na sua posse armas e munições. E como aprendeu a movimentar-se com as armas, já que num dos vídeos do ataque é visto a carregar uma espingarda ao ombro.

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Além da espingarda, quando foi capturado tinha consigo munições e, de acordo com o jornal Jyllands-Posten, uma faca. Também teria acesso a uma pistola, mas o jornal diz que não é claro se foi usada durante o tiroteio.

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O Ekstra Bladet acrescenta que a espingarda é da marca Sauer e a pistola semi-automática é uma Walther P38. As armas são legais, segundo a polícia, mas o homem de 22 anos não tinha nenhuma licença para as usar.

“A quetapina não funciona” e os vídeos no YouTube

O jovem de 22 anos tinha vários vídeos no YouTube nos quais se filmava com armas apontadas a si próprio. A conta do jovem já foi entretanto desativada por ir contra as regras da plataforma de vídeos — e, portanto, também os vídeos já não estão acessíveis. Mas o jornal dinamarquês indica que tinha sete seguidores e cinco vídeos publicados — quatro a 1 de julho e um de há sete anos.

Os vídeos mais recentes, editados e divulgados pelo Ekstra Bladet, têm como título “I Don’t Care” — em português, “Não quero saber” e mostram-no num apartamento aparentemente pequeno com uma espingarda e uma pistola, semelhantes às armas que tinha consigo no ataque. Nesses vídeos, o homem aponta as armas contra a cabeça e a boca, ao som de uma música “sombria”, como apelida o Ekstra Bladet. Há vídeos em que aparece ajoelhado, como se estivesse pronto a disparar.

Antes de ter sido desativada, a conta tinha várias listas de reprodução com títulos como: “Feeling Sad” (“A sentir-se triste”), “Killer Music” (“Música assassina”), “Last Thing to Listen” (“A última coisa para ouvir”) e The Meme (“O meme”).

Nas legendas, lia-se: “Quetapine doesn’t work” — em português, “Quetiapina não funciona“. A quetiapina é um medicamento antipsicótico usado para o tratamento da esquizofrenia, de transtorno bipolar ou depressão grave, e também pode ser prescrita para o tratamento de dependência de drogas. O medicamento regula os níveis de serotonina e dopamina no cérebro, responsáveis, por exemplo, pelo controlo das emoções e do humor.

Horas antes do ataque, o homem publicou também uma fotografia sua com sangue aparentemente fictício no canto da boca, a fingir-se de morto, acrescenta o Ekstra Bladet.

Além dos três mortos, quatro pessoas de nacionalidades dinamarquesa e sueca ficaram em estado crítico — duas de 40 anos, uma de 50 e outra de 16 anos. Tanto os mortos como os feridos foram baleados —, mas três já estão fora de perigo.

Uma das testemunhas que estava no centro comercial, Mahdi Al-Wazni, viu e falou com o presumível autor do ataque antes de este começar a disparar. “Ele era branco e estava vestido com roupa que parecia de caça ou militar e usava um boné virado ao contrário”, disse a testemunha à TV2.

Mahdi Al-Wazni gravou o homem com o telemóvel porque estava armado com o que parecia ser uma espingarda. “Ele falou diretamente comigo e disse que não era uma arma verdadeira, enquanto eu o filmava”, contou. O atirador parecia “violento e zangado”, relatou, mas também “orgulhoso do que estava a fazer”.