O jornalista António de la Cruz, de 47 anos, e a filha de 23 anos foram mortos a tiro ao sair de sua casa em Ciudad Victoria, capital de Tamaulipas, no México, na quarta-feira passada. O pai morreu logo no local e a jovem, que foi baleada na cabeça e levada para o hospital em estado grave, viria a morrer dois dias depois.

O Expreso, órgão de comunicação onde o jornalista trabalhava, é um alvo constante de ataques e ameaças, como aconteceu em 2012, quando uma organização criminosa fez explodir um carro bomba nas portas de sede. Ou ainda, por exemplo, em 2018, quando uma cabeça de uma pessoa decapitada com um aviso para não falarem sobre a violência na cidade foi deixada no local.

De la Cruz era “muito ciente da realidade dos Tamaulipas, era muito corajoso”, disse o diretor do jornal, Miguel Domínguez, em entrevista ao jornal e televisão Milenio.

Visivelmente abalado, o deputado local Gustavo Cárdenas, do partido Movimiento Ciudadano, foi um dos primeiros a falar publicamente sobre o assunto numa conferência de imprensa que foi partilhada nas redes sociais.

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“Esse é um ato onde os principais suspeitos são os funcionários do governo de Estado. Dói-me a alma que tenhamos perdido um companheiro da imprensa desta forma. (…) É muito triste e muito lamentável, que estes cab**** tenham assassinado um homem de família. Não pode passar impune. Exigimos que o Ministério Público esclareça a situação”, disse o deputado.

O governador de Tamaulipas, Francisco García Cabeza de Vaca, também lamentou a morte do jornalista e afirmou na sua rede social Twitter ter “pedido à Procuradoria Geral do Estado o compromisso de esclarecer os factos e que esse crime cobarde não permaneça impune”.

A Procuradoria, por sua vez, afirmou que uma equipa especializada em crimes contra a liberdade de expressão será destacada para o caso e uma investigação foi aberta.

O autarca Eduardo Gattás declarou ser “lamentável a morte” e insinuou tratar-se de um caso isolado, segundo o jornal Milenio. Mas, só este ano, até à data da publicação deste texto, já foram mortos 12 jornalistas mexicanos no país, mais cinco do que o número total de 2021.

Após a posse do Presidente Andrés Manuel López Obrador em 2018, os ataques contra a imprensa aumentaram 85%, refere o Milenio. As organizações locais acusam o chefe de Estado de desvalorizar a violência contra a liberdade de imprensa.

Em março de 2022, o Parlamento Europeu condenou a situação de extrema violência que os jornalistas do México enfrentam e pediu ao Presidente que moderasse a retórica populista contra estes profissionais. López Obrador reagiu acusando a oposição mexicana de se ter aliado aos conservadores europeus para “sujar” a sua imagem, recorda o El País.

Em geral, estas mortes são atribuídas a gangues violentos num país onde o índice de criminalidade é altíssimo. Porém, tal como Gustavo Cárdenas, várias organizações mexicanas relacionam estes crimes com funcionários locais corruptos do governo ligados aos chefes dos grupos criminosos e uma prática alastrada de impunidade, lembra o El País. O diário espanhol sublinha que 90% dos detidos mexicanos estão à espera da sentença, enquanto que, em geral, 95% dos crimes (sejam eles quais forem) cometidos no México ficam impunes.

O Comité para la Protección de los Periodistas (Comissão para a Proteção dos Jornalistas) informou que nos últimos 30 anos, cerca de 40 j0rnalistas foram assassinados no México, o que o torna um dos países mais perigosos do mundo para exercer a profissão.