O presidente do Conselho Regional do Norte, Miguel Alves, acusou esta segunda-feira o novo líder do PSD, Luís Montenegro, de ter protagonizado no congresso do partido “um momento pífio” ao anunciar o não ao referendo sobre a regionalização.

Estamos, no fundo, a assistir a um momento pífio onde o reformador acaba por parir um rato. E é estranho que o novo líder do PSD o faça sem ouvir a esmagadora maioria dos autarcas do PSD, sem ouvir a base do PSD, sem perceber aquilo que são as deliberações das várias regiões”, sublinhou.

Segundo o autarca, “o Conselho Regional do Norte tem decidido sucessivamente, com o voto da esmagadora maioria dos autarcas, das empresas, dos sindicatos, das associações, em favor da regionalização, e por isso fiquei muito desiludido, e até surpreendido, pelo facto de a primeira ação do putativo reformista ter sido o anúncio de uma antirreforma”, disse à Lusa.

Luís Montenegro considerou no domingo, no último dia do congresso onde foi feita a transição da liderança Rui Rio para o candidato vencedor nas eleições diretas ocorridas no final de maio, que um referendo sobre a regionalização em 2024, com a atual situação, será “uma irresponsabilidade, uma precipitação e um erro”, avisando que se o Governo decidir avançar o fará sozinho.

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Em resposta, o também presidente socialista da Câmara de Caminha, no distrito de Viana do Castelo, achou “muito estranho que as primeiras palavras de um líder recém-eleito e que chegou a apelar ao espírito reformista do país e até do Governo, sejam no sentido contrário, de antirreforma e de afastar aquela que é mais importante das reformas do Estado, a reforma administrativa que acaba por criar regiões e potencia a proximidade entre a decisão política e os territórios”.

“O reformista pariu um rato e essa é a notícia mais triste do fim de semana porque é importante o maior partido da oposição estar em sintonia com uma das grandes reformas, talvez a mãe de todas as reformas”, reiterou Miguel Alves.

Também a argumentação usada por Luís Montenegro, baseando a recusa na “grave situação internacional e nas consequências económicas e sociais muito sérias que estão a atingir os portugueses”, foi criticada pelo autarca.

“É um argumento que não colhe, que não serve, é um argumento antigo que está associado a todos os problemas laterais que o país tem, a todos os problemas que são também estruturais. Não podemos achar que por causa de uma conjuntura não podemos tratar de outro problema”, continuou Miguel Alves, lembrando que o tema da “regionalização tem, no mínimo, o tempo da nossa Constituição [da República Portuguesa]”.

Lembrando que “até o anterior líder do PSD [Rui Rio] abriu a possibilidade de se avançar com um referendo em 2024”, Miguel Alves afirmou “querer pensar que isto seja só um momento e que o líder do PSD possa nos próximos dias ouvir o que os autarcas publicamente e ou em surdina lhe posam dizer sobre a necessidade que o país tem de avançar para a regionalização”.

Sobre a declaração do Presidente da República ao anúncio de Luís Montenegro, em que afirmou que “pode querer dizer que, de facto, se tem de apostar mais na descentralização, uma vez que é muito difícil, com o principal líder da oposição a opor-se à regionalização, haver no futuro próximo regionalização”, Miguel Alves percebeu “alguma desilusão” em Marcelo Rebelo de Sousa “depois que tinha vindo a ser dito nos últimos meses e anos”.

“Se o novo líder do PSD mantiver esta posição de afastamento creio que, porventura, esta decisão pode enterrar este assunto por muitos anos”, lamentou.