Dizia que se tinha voluntariado para combater pela resistência ucraniana, que se tinha infiltrado nas forças russas para entrar na cidade de Kherson e que estava armado com uma espingarda. Mas nada disso era verdade. O enrendo que o “Canadian Ukrainian Volunteer” contava aos 120 mil seguidores no Twitter foi desmascarado pelos próprios internautas e culminou no encerramento da página este fim de semana.

A história do indivíduo, um canadiano cujo nome nunca é revelado — a suposta arma, por outro lado, foi batizada de “Steve” — começa em abril. A guerra na Ucrânia tinha começado dois meses antes. Desde então, o voluntário fazia descrições aventurosas e cheias de suspense das batalhas que alegadamente travava a favor da Ucrânia. Só que eram falsas. Nunca tinham acontecido com ele.

“O nosso contacto avisou-nos para permanecer nas sombras e não nos expormos a olhos espiões”, escreveu num dos tweets replicados no The Telegraph: “Uma janela que se abre por cima de nós ou um lampejo de cigarro de alguém na sacada, um cão a latir ao longe, tudo era o suficiente para nos agarrarmos às paredes na escuridão e suster a respiração“.

Mas as fotografias com que o “Canadian Ukrainian Volunteer” ilustrava estas histórias deram pistas que acabaram por denunciar que não eram verdadeiras. A arma que dizia utilizar era a réplica de uma pistola de ar comprimido, denunciou a página KungFlu Panda. E a fotografia de uma placa de blindagem perfurada por balas, que o canadiano dizia ser dele, afinal já circulava em canais para vendas ilegais de equipamento militar no Telegram.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Depois de terem sido reveladas inconsistências no equipamento militar com que o canadiano se apresentava, um internauta conseguiu mesmo descobrir a sua localização. Enviou para o “Canadian Ukrainian Volunteer”, numa mensagem privada, o link para um artigo sobre voluntários ucranianos a lutar na Ucrânia. O indivíduo clicou duas vezes no link e depois bloqueou o internauta que o enviou.

Os dois cliques foram suficientes para revelar que o proprietário da conta “Canadian Ukrainian Volunteer” não estava em território ucraniano. O endereço IP, uma espécie de número identificativo para cada dispositivo, denunciou que o indivíduo estava em Ontário, no Canadá. NexusIntel, internauta que fez esta descoberta e a anunciou no Twitter, disse mesmo que “a única coisa verdadeira que esta pessoa disse é que era do Canadá”.

Esta não é a primeira vez que a guerra na Ucrânia é utilizada na criação de notícias falsas. Como o Observador noticiou no mês passado, autarcas de cidades como Berlim, Madrid ou Viena chegaram a fazer vídeochamadas com alguém que se fazia passar por Vitali Klitschko, responsável pela autarquia de Kiev, recorrendo a um “deepfake”.

“Deepfake” que se fazia passar por autarca de Kiev terá conseguido enganar políticos europeus