Passou muito tempo desde que a carreira de Chris Pratt teve o seu crescimento na televisão, e esse era um ator bem diferente daquele que se tornou mundialmente conhecido graças aos papéis em filmes como “Guardiões da Galáxia” e “Mundo Jurássico”. Antes de ser um cabeça de cartaz, era ator de papéis secundários e o Andy Dwyer de “Parks And Recreation” foi durante algum tempo (será ainda?) a sua personagem mais relevante. O Chris Pratt de então – estávamos em 2009 – não tinha o físico de hoje e a disposição para front man era muito reduzida. De certa forma, a afirmação enquanto Peter Quill / Star-Lord em “Guardiões da Galáxia” foi inesperada, apesar do papel lhe assentar que nem uma luva. E é graças a essa personagem que hoje o podemos ver num thriller de acção como “A Lista Terminal”, já disponível na Prime Video.
A nova série da Amazon segue um filão. Um que a produtora e plataforma de streaming tem procurado noutras séries, como “Reacher” ou “Jack Ryan”, que enchem a barriga com a ideia de um herói que mistura o Jason Bourne de Matt Damon com o Ethan Hunt de “Missão Impossível”, sempre com outro elemento em comum: a origem em romances. A Lista Terminal é uma criação de Jack Carr (que foi adaptada para televisão por David DiGilio), o primeiro de uma série de livros em volta de James Reece (Pratt), um Navy Seal que descobre, no regresso a casa, que a sua última missão falhada não é bem o que parece.
[o trailer de “A Lista Terminal”:]
James Reece surge como uma mudança na carreira de Chris Pratt, mesmo se considerarmos o filme “A Guerra do Amanhã” – outra produção da Prime Video –, de 2021. E até se destaca como algo diferente no verão de 2022 do ator, onde acontece um regresso das suas duas personagens mais carismática no cinema, Owen Grady (“Mundo Jurássico Domínio”) e a presença de Peter Quill no novo filme de Thor. Reece é, claramente, uma vontade de entrar numa nova frequência, de se desligar do protagonista com carisma, o herói simpático, sem grande bagagem emocional nem ambição, que se ajusta a um ideal de justiceiro juvenil, para personificar outro que está próximo de um público adulto. “A Lista Terminal” é uma vontade de crescer e de, com isso, conquistar uma nova audiência. Atitude sensata para o ator de 43 anos.
Quer isto dizer que não há espaço para o humor em “A Lista Terminal”. É ação que se quer, é ação que está no menu e é ação que se recebe. Um dos nomes associados à série é o de Antoine Fuqua (“Dia de Treino”), que também realiza o primeiro episódio. Ao fazê-lo, assegura um tom que é seguido pelos restantes sete episódios: este é um thriller para uma audiência mais adulta, familiar.
Eis a história. Tudo arranca com a tal tarefa de James Reece, um navy seal altamente treinado. É o líder de uma missão que corre mal, alguns colegas seus morrem, os que regressam começam a desaparecer de forma muito suspeita. Entretanto, uma jornalista (Constance Wu) quer conhecer mais a fundo a história de Reece, porque acredita que há muito por contar sobre o que realmente se passa nestas missões secretas e no tratamento que é dado aos homens que participam nela. O protagonista é o alvo perfeito, primeiro porque regressa de uma missão falhada; segundo porque o trauma lhe parece estar a afetar a memória. E é aqui que há o grande twist de “A Lista Terminal”.
Ao invés de apostar naturalmente numa cruzada de conspiração, inicialmente sugerida pela ideia de que Reece começa a perceber que o que realmente aconteceu não é tão transparente como parece, a série joga com a ideia de trauma e com a memória do protagonista. Cedo se percebe que a sua memória o anda a trair, um traumatismo pode estar a criar isso tudo, mas uma coisa é certa: a memória de Reece não é de fiar. Ou será? Lançada a dúvida, cria-se um enredo sólido para justificar seguir a cruzada de um herói que, de repente, se vê sem nada a perder.
A ação e o drama do primeiro episódio são tipicamente Fuqua e lançam claramente Chris Pratt para o seu típico personagem com bagagem, consciente das barreiras que tem de quebrar para praticar o bem. Até porque não há outra forma de justificar a vingança. A dúvida seria sempre se este tipo de personagem serviria a Chris Pratt. Por outras palavras: se o ator conseguiria quebrar uma imagem construída na última década e justificar um regresso às séries com uma atitude completamente diferente daquela que alimentou durante quase 20 anos.
Da mesma forma que se esquece Andy Dwyer para celebrar Peter Quill e Owen Grady, também esquecemos estes dois para aceitar James Reece. Melhor — não é necessário esquecer, mas fica presente que não se recorda um Chris Pratt de outros tempos, outros momentos. O humor e o instinto para filmes de aventuras de Pratt pode desaparecer e dar lugar a um herói com uma missão de vingança, que consegue justificar a continuação de uma série. Pratt volta a crescer na televisão. Uma segunda temporada ainda não está confirmada, mas esta primeira tem muito sumo para a continuidade. Até porque Jack Carr já escreveu material para alguns anos.