O embaixador jubilado Fernando d’Oliveira Neves defendeu que as sanções aplicadas pelo Ocidente à Rússia “não servem para nada” e que a solução para a guerra na Ucrânia tem de passar pela negociação com Vladimir Putin. “Podíamos começar por tentar abordar a Rússia para saber quais são as medidas que poderiam satisfazer”, sugeriu o diplomata numa entrevista à CNN Portugal.

Se Vladimir Putin não ouvir, “paciência”: é preciso continuar a senda diplomática para “encontrar uma solução em que houvesse respeito pelas preocupações legítimas de segurança da Rússia”, defendeu o embaixador, que esteve encarregado das negociações de Timor. As sanções, essas, são uma “inutilidade total”: “A única vez que se diz que as sanções poderão ter tido algum efeito foi no apartheid”.

Fernando d’Oliveira Neves, que serviu na missão portuguesa das Nações Unidas (ONU) e na embaixada em Washington, esclareceu que condena e é “completamente contra” as ações russas na Ucrânia. O chefe de Estado russo é um “criminoso” e “assassino” que deveria ser presente ao Tribunal Internacional de Crimes de Guerra, classificou.

Mas não é avisado “criar uma austeridade contra a Rússia” porque seria nocivo. Aliás, as sanções que foram aplicadas em 2014 aquando da anexação da Crimeia já tinham constituído um erro: “Elas humilham o país e reforçam a unidade e coesão política”, considerou o diplomata.

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É por isso que o embaixador é “completamente contra o alargamento a leste da NATO” e também não concorda com a abertura da União Europeia a qualquer país saído da União Soviética — como Moldávia, Geórgia ou Ucrânia. “Todos os países têm problemas de minorias russas”, considerou Fernando d’Oliveira Neves, e “já nos bastam os nossos”.

E esses problemas podem estar prestes a adensar-se para os países que pertencem à Aliança, teme Fernando Neves. “O percurso que estamos a levar pode conduzir a uma confrontação direta entre NATO e Rússia“, avisou o embaixador. Essa confrontação direta pode “facilmente derrapar por um pequeno equívoco” entre a Rússia e a Finlândia — países que partilham a exploração marítima das águas que banham as duas costas.

Numa tentativa de interpretar os objetivos de Vladimir Putin, o embaixador acredita que o líder russo tem duas exigências para o Ocidente: reconhecer que a Rússia é uma grande potencia e admitir que o país “tem direito a ter preocupações de segurança com a sua segurança, como temos todos”. Fernando Neves apela ao fim da “hipocrisia” e a “não fingirmos que somos uns santos quando fazemos as mesmas coisas”.

Sustentamos há não sei quantos anos o maior violador de direito internacional que pratica em prestações o que a Rússia faz de uma vez só: Israel”, defendeu o embaixador, avisando também que a comunidade internacional tolerou os ataques norte-americanos ao Iraque — que, no fim de contas, na sua opinião, tinha a mesma agenda que a Rússia ao invadir a Ucrânia.