O presidente do CDS-PP apelou esta quarta-feira ao primeiro-ministro para que devolva à sociedade parte dos “rendimentos imprevistos e extraordinários” que o Estado tem arrecadado, após uma audiência com o Presidente da República, de quem defendeu uma “intervenção mais ativa”.

Após ser recebido pelo Presidente da República, no Palácio de Belém, a seu pedido, Nuno Melo qualificou ainda de “um frete” ao Governo a moção de censura apresentada pelo Chega, que foi chumbada no parlamento, por ser inconsequente, e disse que os centristas se teriam abstido, se a tivessem de a votar na Assembleia da República.

Tendo de votar, o CDS certamente se absteria, porque, embora tendo consciência que aquilo é um simulacro, aquilo não serve para nada e é um favor ao PS e ao doutor António Costa, por outro lado, objetivamente, o Governo merece censura. Portanto, seria uma das raras vezes em que o CDS se absteria, porque o CDS preocupa-se em marcar posição”, disse Nuno Melo aos jornalistas.

Após a sua audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, Nuno Melo sublinhou as circunstâncias de “economia de guerra”, problemas na saúde, e aumento generalizado do custo de vida, e em que o “duas fações antagónicas” se confrontam no Governo, numa referência ao episódio envolvendo o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, para sublinhar que “até maio, o Estado, por decisão do PS, arrecadou mais de três mil milhões de euros de receita aproveitando de um circunstancialismo em que todos os portugueses sofrem”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“O apelo que quero fazer ao doutor António Costa, porque isto não é justo, é que trate de devolver à sociedade parte destes rendimentos imprevistos e extraordinários que capitalizam o Estado, mas fazem falta no dia a dia de cada uma das pessoas e de cada uma das empresas”, declarou.

Sem querer revelar o conteúdo da conversa que teve com o Presidente da República, Nuno Melo assinalou que “o senhor Presidente da República tem exata noção das circunstâncias, tem a exata noção do momento em que o país vive”.

Para o líder do CDS, a situação é tão mais grave quanto, por via da maioria absoluta do PS, existe um “parlamento mudo”, que não fiscaliza o Governo, dando como exemplo o chumbo de uma audição a Pedro Nuno Santos.

PS chumba audição a Pedro Nuno Santos

Por isso é tão importante a intervenção mais ativa do Presidente da República, numa lógica que é compensadora. E também é importante uma intervenção de partidos que não estão no parlamento, caso do CDS, numa oposição que se faz fora da Assembleia da República. Isso é o papel que nos compete e que assumimos com todo o sentido de responsabilidade”, defendeu.

Questionado se considerava que Marcelo Rebelo de Sousa tem sido pouco interventivo, Nuno Melo recusou em absoluto esse cenário.

“Não, absolutamente. Quero chamar a atenção da opinião pública para o papel que, sendo sempre relevante do senhor Presidente da República, hoje, neste contexto, é particularmente relevante. Quando o parlamento não pode fiscalizar o Governo, até para equilíbrio das instituições democráticas, que hoje não funcionam particularmente bem, outras entidades e outros fóruns têm de ser capazes de processar essa oposição”, sustentou.