A administração do parlamento angolano condenou esta terça-feira as orações efetuadas por religiosos na sala do plenário, referindo que o “deslize” resultou de “fatores emocionais dos pastores e da desatenção de funcionária parlamentar”, garantindo que foram tomadas “medidas administrativas”.

É condenável o ato, não é correto o que aconteceu, nós também repudiamos, esse foi um deslize que resultou de fatores emotivos dos próprios integrantes da visita e da nossa funcionaria que os acompanhou que efetivamente deveria ter o discernimento de dizer não aos pastores”, afirmou esta terça-feira o secretário-geral da Assembleia Nacional (parlamento) à Lusa.

Pedro Agostinho de Neri deu conta que o parlamento, “apesar de ser a casa do povo, não autorizou sessão de orações na sala principal do plenário, mas tem portas abertas para qualquer visitante”.

O parlamento “não autoriza este tipo de orações, o parlamento é casa do povo, e na casa do povo quando você manifesta interesse de vir visitar, somos obrigados à facilitar essa visita, temos aqui o modus operandi que você pede, nós autorizamos e temos guias, que mostram onde e como funciona o parlamento”.

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“Infelizmente, o que aconteceu é que os pastores emocionaram-se, quando chegaram à sala do plenário e viram aquela monstruosa sala eles emocionaram-se, a nossa colega que estava a acompanhar a visita não teve discernimento suficiente para dizer que este ato não se faz”, frisou.

“Nós logo de seguida também apuramos a veracidade e já tomamos as medidas administrativas competentes e tudo mais que os grupos parlamentares possam manifestar o interesse de saber eles têm um espaço, essa casa mesmo é deles, e não têm que recorrer a terceiros para pedirem explicações”, sustentou.

Um vídeo colocado a circular nas redes sociais em Angola apresenta um grupo de mais de uma dezena de religiosos, maioritariamente ajoelhados, a fazerem orações na sala principal do plenário do parlamento angolano, em Luanda.

O Partido de Renovação Social (PRS), oposição angolana, condenou e considerou esta terça-feira “um grande erro” a realização de orações na sala principal do plenário do parlamento, exortando a direção o órgão legislativo a “pedir desculpas”.

“Com certeza é necessário que a direção do parlamento se pronuncie a pedir desculpas porque foi um grande erro ser permitido que se fizessem orações na sala do plenário”, afirmou esta terça-feira à Lusa o deputado do PRS Benedito Daniel.

A UNITA, maior partido na oposição, exigiu, na segunda-feira, ao presidente do parlamento angolano que apure responsabilidades sobre a “cerimónia religiosa secreta” realizada na sala do plenário do órgão legislativo, considerando-a como o “cúmulo da promiscuidade” entre Estado e religião.

O grupo parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) considerou também que a realização da referida cerimónia, “a favor da campanha dos candidatos a Presidente da República e deputados à Assembleia Nacional (parlamento) do partido do regime para as eleições de 24 de agosto representa a “coisificação” da fé”.

“Assim como a instrumentalização da religião para propósitos contrários à doutrina social da igreja”, lê-se numa nota de imprensa do grupo parlamentar da UNITA divulgada.

Pedro Agostinho de Neri referiu igualmente que os partidos têm espaços onde devem colocar as suas preocupações, “fundamentalmente durante uma sessão plenária ou em conselho de administração onde são todos membros ou em reunião de mesa, e não por esta via”.

Segundo o responsável da administração parlamentar, o vídeo que circula nas redes sociais foi gravado por um dos pastores da denominada “plataforma de igrejas cristãs” para “mostrar que visitou a casa do povo”.

Este caso “é um assunto só porque estamos a viver este ambiente político, porque se todos nós olharmos para trás, todas as inaugurações que fomos fazendo foram convidadas igrejas para vir inaugurar”, salientou.

“É o momento político (período pré eleitoral) e há um relativo aproveitamento nisso, mas é condenável o ato, não é correto o que aconteceu, nós também repudiamos, esse foi um deslize que resultou de fatores emotivos dos próprios integrantes da visita e da nossa funcionaria que os acompanhou que efetivamente deveria ter o discernimento de dizer não aos pastores”, rematou Pedro Agostinho de Neri.

O parlamento angolano, cuja legislatura está em fase final, é composto por 220 deputados, maioritariamente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), seguido da UNITA, CASA-CE, PRS e FNLA.

Angola realiza as quintas eleições gerais da história política do país em 24 de Agosto próximo.