É de lei: todos os governantes que abandonem cargos ministeriais no Reino Unido, por vontade própria ou não, têm direito ao pagamento de um quarto do salário anual — desde que, nas três semanas seguintes, não voltem a assumir uma posição semelhante.

Com a avalanche de demissões no governo de Boris Johnson — entre ministros, secretários de Estado e membros do Parlamento, foram 61 os conservadores que bateram com a porta nos últimos dias —, já vai em quase meio milhão de euros o valor devido em indemnizações a pagar.

Segundo as contas do britânico Independent, já a contar com o valor devido ao primeiro-ministro britânico, que fez o seu discurso de demissão pela hora de almoço desta quinta-feira, ao todo, as demissões no governo do Reino Unido podem custar 420 mil libras, 493.637 euros. Isto se os governantes agora demissionários não derem ouvidos aos pedidos da oposição e não fizerem “a coisa decente” — abdicar dessas mesmas prestações.

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“Os deputados conservadores passaram meses a defender Boris Johnson e não conseguiram livrar-se dele quando tiveram a oportunidade”, disse ao diário Wendy Chamberlain, a líder do Partido Liberal Democrata no Parlamento. “O público não lhes perdoará por o terem mantido no seu lugar durante tanto tempo. As lutas internas e a pura incompetência dos Conservadores custaram ao contribuinte ainda mais dinheiro em plena crise do custo de vida. Para o bem do país, os ministros conservadores que se demitiram deveriam fazer o que é decente e abdicar dos seus pagamentos.”

Como explica o Independent, estas indemnizações são devidas a todos os membros cessantes do governo, até mesmo àqueles que, como Michelle Donelan (que foi nomeada secretária de Estado da Educação esta terça-feira, dia 5 de julho, e resignou esta quinta-feira, 7), se tenham mantido nos respetivos cargos por um tempo residual. Ou aos que, como Chris Pincher, o responsável pela disciplina parlamentar dos conservadores que esteve na origem desta que se revelou a crise fatídica para Boris Johnson, tenham caído em desgraça.

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O deputado afastado graças a acusações de assédio, diz o Independent, terá direito a receber uma compensação de 7.920 libras,  9.307 euros. Já no caso de Michelle Donelan, revelou o site Guido Fawkes, mantido pelo blogger de direita Paul Staines, a indemnização pelas 36 horas em que se manteve no governo será de 16.876,25 libras, o equivalente a 19.825 euros. “Se for esse o caso, vou doar a totalidade do valor a uma caridade local”, respondeu já Donelan, membro do Parlamento desde 2015, através da sua conta de Twitter.

De acordo com o Independent, os ministros do governo do Reino Unido recebem entre 67.505 e 22.475 libras, valores que se somam aos dos salários (84.144 libras/ano, o equivalente a 98.918 euros) que auferem como deputados — sendo que estes últimos vão manter-se, já que as demissões apresentadas dizem respeito apenas aos cargos do governo.

O primeiro-ministro Boris Johnson, por exemplo, terá direito a receber uma compensação de 18.860 libras, 22.164 euros, um quarto das 75.440 libras que recebe anualmente pelo desempenho no cargo. Resta saber se também vai abdicar dela.