As autarquias da Área Metropolitana do Porto (AMP) afirmaram esta sexta-feira não querer “continuar a ser as barrigas de aluguer” do Governo na vacinação contra a Covid-19 e exigem a “ressuscitação dos centros de saúde” para aquele efeito.
Na reunião desta manhã do Conselho Metropolitano, o presidente, Eduardo Vítor Rodrigues, alertou que as autarquias “não têm capacidade financeira para manter a logística” dos centros de vacinação e considerou que os municípios continuarem a suportar as campanhas de vacinação contra a Covid-19 é “uma transferência de competências sem assinar nenhum acordo”.
O também presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia avisou que, naquele município, a autarquia não está disposta a continuar a operacionalizar a vacinação, salientando que “foi uma resposta em situação de emergência mas agora pode, e deve, ser planeada, e de outra forma”.
Fizemos, nós autarquias, um trabalho extraordinário. Chegou a ser prometida comparticipação [pelo Governo], mas o dinheiro ou não chegou, ou o que chegou foram trocos”, disse o autarca socialista, dando conta da posição de Vila Nova de Gaia.
“No que me diz respeito, não estou vocacionado para voltar a ser a barriga de aluguer de tudo isto. Temos que reconhecer que estávamos perante uma emergência. Já tivemos tempo suficiente para fazer as devidas adaptações e, além do mais, depois de tudo [o que foi feito], nem um obrigado”, explicou.
Para Eduardo Vítor Rodrigues, a solução “já não passa por grandes centros de vacinação como até ao momento, mas por ressuscitar os centros de saúde” já existentes nos municípios.
“Eu entendo a facilidade de centralizar toda a operação num sítio. Mas não é comportável continuar a ocupar espaços, como pavilhões que deixam de ser usados para os fins para os quais foram criados, para uma vacinação que pode agora ser planeada com cuidado, tempo, e ser feita nos centros de saúde, mesmo que precisem de ajustes”, referiu.
A solução apontada por Eduardo Vítor mereceu o apoio dos autarcas presentes na reunião, embora com algumas divergências quanto ao modo de mostrar o posicionamento de cada autarquia.
“Sem fazerem transferência de competências estão a transferir as competências todas”, referiu o vice-presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Luís Diamantino, com o autarca de Vale de Cambra, José Pinheiro, a salientar que “é o momento de dizer basta” e a vice-presidente da Câmara de Valongo, Ana Rodrigues, salientou a “verba demasiado elevada” que foi despendida para manter o centro de vacinação naquele município.
No entanto, algumas vozes foram dissonantes sobre se a AMP devia tomar uma posição conjunta sobre a vacinação.
“Vou ser a voz dissonante. Relembro que quando surgiu a pandemia os municípios decidiram criar individualmente os centros. Não percebo agora a necessidade da decisão metropolitana quando antes foi individualmente”, referiu o vice-presidente de São João da Madeira, José Vieira.
Também a autarca de Arouca, Margarida Belém, chamou a atenção para as “particularidades de cada município”.
“No meu caso, Arouca, a vacinação foi feita no Centro de Saúde”, explicou.
No final da discussão, e embora seja unânime entre as autarquias presentes na reunião a necessidade da vacinação contra a Covid-19 ser planeada sem “sobrecarregar as câmaras”, foi decidido que a AMP não tomaria uma posição enquanto órgão.