As perturbações nos aeroportos e cancelamentos de voos um pouco por toda a Europa mostram como as companhias aéreas estavam mal preparadas para o aumento da procura depois de dois anos marcados pela diminuição das viagens por causa da pandemia, noticia o Público. As conclusões têm por base os dados cedidos pela AirHelp, que presta apoio aos passageiros de voos de e para a União Europeia.

Às 7h30 desta sexta-feira, tinham sido cancelados 16 voos para Lisboa e 16 que deveriam sair do aeroporto da capital portuguesa, a maioria da TAP. Já no aeroporto Sá Carneiro, havia quatro cancelamentos confirmados para o Porto e cinco com partida da cidade invicta, a maior parte da da companhia lowcost EasyJet. No Algarve, estão cancelados três voos com chegada e três com partida do aeroporto de Faro. Nos aeroportos de Ponta Delgada (Açores) e Funchal (Madeira) não havia registo de cancelamentos a esta hora.

Recebemos quase seis vezes mais reclamações do que no Verão passado e 2,5 vezes mais do que no Verão de 2020″, disse Pedro Madaleno, advogado da AirHelp, ao Público.

Como resultado dos cancelamentos, mas também dos atrasos, as companhias aéreas podem ter de vir a pagar indemnizações a cerca de dois milhões de passageiros relativas aos meses de maio e junho de 2022 e que correspondem a um aumento de mais de 10% em relação ao período pré-pandemia, noticia o Público. Entre estes passageiros, cerca de 75.800 são portugueses, um aumento de quase 70% em relação a igual período de 2019.

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Voos cancelados podem tornar-se no “novo normal” na Europa

O cancelamento de voos pode tornar-se no “novo normal na Europa”, com as companhias aéreas a terem poucos incentivos para contratar e aumentar massa salarial, numa altura de aumento dos preços dos combustíveis, segundo um estudo.

No documento, elaborado pela Allianz Trade, acionista da Cosec — Companhia de Seguro de Créditos, lê-se que “os voos cancelados podem tornar-se o novo normal na Europa à medida que as companhias aéreas se esforçam por proteger as margens, num contexto de subida dos preços dos combustíveis” em 89%, no acumulado deste ano.

Assim, tendo em conta que “os salários que representam 25% das receitas (face à média global de 19%), as companhias aéreas europeias têm pouco incentivo para resolverem a escassez de pessoal a curto prazo”, indicou a Allianz Trade.

Consequentemente, “as tarifas aéreas estão a disparar na Europa”, sendo que “após anos de quedas”, o estudo estima que os preços aumentem 21% em 2022, acrescentando que “embora isto faça crescer a receita em +102% em termos homólogos, em 2022, isso não será o suficiente para evitar um terceiro ano consecutivo de prejuízos”, de cerca de 9,7 mil milhões de dólares (cerca de 9,4 mil milhões de euros), garantindo que as “companhias aéreas europeias não atingirão o ‘break-even’ até 2023”.

Por outro lado, “a longo prazo, a transição verde representa uma perturbação ainda maior para as companhias aéreas em Europa, dada a crescente concorrência dos operadores ferroviários, que produzem menos 85% de CO2 do que os aviões e são propriedade do Estado (ou seja, apoiados financeiramente no investimento)”, indicou o estudo.

Assim, renovar uma frota antiga “será caro para um setor cuja dívida cresceu 1,4 vezes em 2020”, destacou, alertando ainda que a implementação de novos regulamentos sobre a utilização de combustível de aviação sustentável irá ainda esmagar mais as margens das companhias.

Nas últimas semanas, tem-se assistido a uma vaga de cancelamentos e perturbações na operação das companhias aéreas e aeroportos, sobretudo devido a falta de pessoal, num contexto de recuperação rápida do transporte aéreo, depois da pandemia.