O terrorismo representa “um perigo real e presente” na União Europeia (UE), especialmente o terrorismo jihadista e de direita, mas também aquele ligado a combatentes estrangeiros atraídos pela guerra na Ucrânia, alertou esta quarta-feira a Europol.

Embora o trabalho para cessar e prevenir ataques “pareça ter um efeito positivo, atores isolados ligados ao extremismo violento de direita e ao jihadismo continuam a ser uma preocupação”, admitiu a diretora da Europol, Catherine de Bole, citada pela agência espanhola de notícias Efe.

A agência europeia de coordenação policial apresentou o seu relatório anual sobre as tendências e situação do terrorismo na UE, que fornece um panorama atualizado com base em dados de países europeus sobre ataques, prisões e sentenças emitidas por este crime.

De acordo com a responsável, o terrorismo ainda representa um perigo na UE, onde foram registadas 388 detenções de suspeitos no ano passado.

A invasão russa da Ucrânia “terá um impacto duradouro na segurança” da UE, disse, lembrando que a guerra “já atraiu várias pessoas radicalizadas” que se juntaram à luta de ambos os lados, sendo provável que a situação “desencadeie reações e mobilizações extremistas violentas”, especialmente na internet.

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Por isso, Catherine de Bole acredita que estes casos devem ser acompanhados com base “nas lições aprendidas no passado ao lidar com combatentes estrangeiros que regressaram dos campos de batalha no Médio Oriente”.

O relatório divulgado analisa o terrorismo jihadista, de direita, de esquerda e anarquista, étnico e nacionalista ou separatista, entre outros tipos.

Segundo os dados, mais de dois terços (260) do total de suspeitos detidos no ano passado foram acusados de jihadismo na Áustria, em França e em Espanha, tendo sido condenadas 362 pessoas.

A Europol adianta ainda terem sido registados 15 ataques terroristas ou tentativas na UE durante 2021, um número “significativamente inferior” ao do ano anterior, quando foram registados 57 ataques concluídos, falhados ou frustrados.

Esta diminuição é explicada pela Europol com a redução drástica dos ataques denominados de “terrorismo de esquerda”.

A França foi o país onde houve mais incidentes terroristas, cinco no total, seguida pela Alemanha (3) e pela Suécia (2), enquanto a Áustria, a Dinamarca, a Hungria, a Bélgica e Espanha relataram um ataque cada.

Quatro dos ataques foram concluídos, refere a Europol, descrevendo que três foram atentados jihadistas (que provocaram um morto em Espanha e outro em França) e um foi um ataque terrorista radical de esquerda na Alemanha, o único dessa ideologia registado em 2021 na UE, contra 25 em 2020 e 26 em 2019.

Em termos de perfis, os atores solitários continuam a ser os principais perpetradores na Europa, tendo os terroristas usado, sobretudo, armas que são “relativamente fáceis de obter e não requerem grandes habilidades para montar ou usar”, sublinha a Europol, apontando a utilização de armas brancas, carros em ataques de abalroamento e dispositivos incendiários improvisados.

As restrições para contenção da Covid-19 obrigaram a passar mais tempo online, o que é um “fator de risco” para pessoas vulneráveis à radicalização, alerta a agência da polícia europeia, que detetou que a propaganda difundida na internet no ano passado esteve sobretudo relacionada com a pandemia.

Segundo a diretora da agência, “o isolamento social e o aumento de tempo passado online exacerbaram os riscos da propaganda extremista violenta e de conteúdos terroristas, principalmente entre os jovens e os menores”, pelo que o impacto social da pandemia apresenta “desafios a longo prazo decorrentes” desta crise sem precedentes.

Por outro lado, os desenvolvimentos geopolíticos em “regiões-chave” fora da UE influenciaram as narrativas e propagandas terroristas espalhadas pelos países europeus, mas a atual ameaça terrorista “não parece ter sido diretamente afetada pela tomada do Afeganistão pelos talibãs”.

Ainda assim, alertou a agência, este evento aumentou a atenção global sobre insurgências motivadas pela religião e forneceu aos jihadistas afiliados a grupos como a Al-Qaeda e o autoproclamado Estado Islâmico “oportunidades para promover as suas próprias narrativas”.