Para a principal indústria alemã, a automóvel, não é de esperar que se produzam, em 2021, menos automóveis do que os fabricados há 45 anos. Mas foi exactamente isso que aconteceu, mercê da Covid-19, da falta de chips e de cablagens, a que se juntou um menor interesse em adquirir carros novos, por parte dos clientes. Isto explica que os germânicos não tenham ultrapassado as 3.096.165 unidades em 2021, valor abaixo dos 3.546.900 veículos produzidos em 1976.

Para termos uma ideia concreta da dimensão da quebra na produção de carros novos da máquina alemã, basta recordar que os alemães não fabricavam menos de 5 milhões de veículos desde 1998 (excepção feita para 2009, em que o valor caiu para 4.964.523), tendo mesmo atingido 5.871.918 em 2011, o recorde absoluto, não muito acima dos 5.746.138 conseguidos em 2016, os 5.709.139 de 2007 ou os 5.708.138 de 2015.

A produzir quase metade dos veículos a que se habituou nos últimos 24 anos, os responsáveis alemães estão obviamente nervosos pelo efeito que esta redução tem vindo a provocar na facturação dos respectivos grupos, bem como nos lucros que registam, que depois são divididos pelos accionistas. E, como se isto não bastasse, estes veículos produzidos são igualmente uma fonte de impostos, reforçando a “saúde” do fisco germânico, que não deverá estar particularmente satisfeito ao assistir a esta redução dos números de produção e de facturação.

A imprensa alemã publicou os valores da fabricação de veículos registados entre 1957 e 2021, tendo arrancado com 1.040.188 unidades em 1957, para depois superar os dois milhões em 1962 (mais precisamente 2.109.166), os três milhões em 1969 (3.312.539) e os quatro milhões em 1985 (4.166.686). Mas apesar da associação do sector, a VDA, apontar grande parte das culpas à pandemia e às dificuldades dos fornecedores, a realidade é que a crise começou muito antes. Depois de registar entre 5,6 e 5,7 milhões de modelos produzidos entre 2014 e 2017, a Alemanha começou a entrar em declínio, com vendas de 5,1 milhões em 2018, 4,6 milhões em 2019, 3,5 milhões em 2020 e, por fim, menos de 3,1 milhões de veículos fabricados em 2021.

Enquanto isto, o mundo continua a aumentar a produção global de veículos, que dos 65,8 milhões fabricados em 2020 deu um salto para 67 milhões em 2021. Os maiores mercados são o chinês, com 21 milhões de unidades produzidas, seguido dos EUA (8,8 milhões) e do Japão (6,6 milhões). Entre os europeus e depois dos 3,1 milhões da Alemanha, surgem os 1,6 milhões de Espanha, 0,91 milhões da França e 0,85 milhões do Reino Unido, todos eles a cair face ao ano anterior.

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